quarta-feira, fevereiro 28, 2007

fotopost #5
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"dos cervezas", madrid, agosto 2004

osgas, leques, oregãos e soquetes

maria goreti, gostei tanto do teu comentário sobre o algarve, que não resisto a publicá-lo como post. ao lê-lo revivi cheiros e sensações, atmosferas e imagens.

Quando eu tinha 7 anos passava longos verões na casa de um tio avô católico, machista e tudo, na R Teófilo Braga, em Faro. Ele cultivava espinafres num pátio fresco, tinha uma açoteia onde o por do sol era muito bonito, havia osgas nas redes mosquiteiras das janelas e umas comidas com tomate, orégãos e peixe fresco como eu nunca havia saboreado e de que, se me concentrar, ainda consigo sentir o perfume. Era casado com uma senhora Algarvia que dizia "os mês meninos" de mim e dos meus primos que levava, bem comportados, em fila indiana, sapato engraxado e soquete branco à missa da tarde quente de domingo. Essas missas nunca esquecerei. A pele pouco habituada ao Sol, queimava-me vermelha sob as mangas tufadas do vestido. Cheirava a insenso, a cera e a Bien Etre. Ouvia-se o roçagar dos leques das senhoras. Eu e a minha prima recebemos leques pequenos e brancos com a gavidade de quem recebesse algum amuleto iniciático. Eu invejava secretamente a mantilha de renda branca que a minha prima recebera, essa sim verdadeiramente iniciática, atestando da sua condição de púbere, já com a "profissão de fé", mas ao menos eu recebera o leque e, se olhasse com atenção, cedo aprenderia a usá-lo com a mesma elegância das mulheres. Os meus tios avós tinham uma "comadre Joana": Senhora idosa e viúva com quem se encontravam nas tardes de Sábado numa aldeia muito branca, com pérgolas de caniçal, lagedos pintados com uma lavagem vermelho vivo aplicada de esfregona em torno de um velho mas imaculado poço com sua nora, embora já sem mula. As estradas eram convexas e estreitas, rés vés das soleiras das portas onde as mulheres da minha terra diriam que se podia lá comer de tão limpinhas. Essa limpeza fascinava-me, a mim beirã que ia para a escola com a bosta dos paralelos da rua agarrada às tamancas. O meu pai, orgulhoso mestre escola, explicava-me as orígens árabes disto e daquilo, a picota e os laranjais, mais a lenda da princesa nórdica e suas amendoeiras em flor. Aos 18 anos, muito longe da mantilha de renda branca, e ainda não retornada para o leque, fiz a costa Algarvia de mochila, a pé e à boleia. Dormi na praia e fui acordada pelos pastores alemães da GNR, e tudo o mais a que davam direito a mochila e as boleias. Gostei mais ainda que da missa de domingo à tarde, em Faro aos 7 anos de idade. Voltei ao Algarve há poucos anos e fui à aldeia da Comadre Joana. À soleira das portas não havia já estradas convexas. Aliás as estradas passavam ao nível das pérgolas de caniços, e as casas, já não tão brancas, estavam relegadas a caves das vias rápidas. Procurei os areais discretos onde caminhara mais que passos nas areias e tinham-se ido embora. Tinham desaparecido demasiadas coisas belas ao mesmo tempo e eu fiquei muito triste. Felizmente não farão a ilha artificial. Valha-nos isso.

Maria Goreti

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

domingo, fevereiro 25, 2007

meritocracia e felicidade

recebi isto por email:

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente mas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"
João Pereira Coutinho, jornalista


no essencial, concordo, mas não estou bem a ver um terço da humanidade a tomar prozac, nem sequer aos medicamentos verdadeiramente necessários têm acesso. só se a humanidade a que se refere o jpc for o mundo ocidental, o que não deixa de ser uma lástima, um jornalista ser tão redutor. também não sei se o fim último da vida é a felicidade. também não é a excelência. para mim é mais a aprendizagem. mas como nunca li montaigne, não sei de que felicidade se fala. porque a felicidade como estado permanente não existe, e os pequenos momentos a que nos referimos como momentos felizes, só fazem sentido e só são valorizados por comparação com os outros em que não somos felizes. a felicidade permanente, se existisse, seria como o paraíso: terrivelmente monótono e aborrecido.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

folias

foi um bom carnaval. sábado disfarcei-me de preguiçoso, domingo de consumista, segunda de trabalhador e terça de membro de um bando de amigos almoçando tarde fora.

domingo, fevereiro 18, 2007

algarve - notas soltas

não deixa de ser estranho que em 3 meses de blogagem, esta seja a primeira referência ao algarve. isto é certamente sinal da difícil relação que tenho com a região (para mim era um país) que me viu nascer. todos os meus avós eram algarvios, à excepção de uma avó galega, de que eu tinha e tenho imenso orgulho. quando eu era adolescente, considerava-me em primeiro lugar cidadão do mundo, em segundo algarvio e só em terceiro português. sempre tive orgulho da nossa especificidade dentro do todo nacional, o facto de termos sido reino dos algarves, dentro da coroa portuguesa, até há menos de um século, e a carga cultural herdada da civilização árabe. imaginava que seria possível uma cultura algarvia viva, cruzando as tradições europeias e árabe e projectando-as para o futuro. imaginava faro como uma grande cidade no futuro. isto foi antes de ir para lisboa. na capital do império, para onde tive que ir por ainda não haver cá universidade, descobri novas realidades, vi a pequenez e a insignificância da minha querida região. finalmente, quando fui viver para o norte do país, apercebi-me do mito algarve como colónia de férias, sentia-me quase como um estranho em terra estranha, quando me perguntavam o que fazia um algarvio alí, por aquelas latitudes. mas portugal entranhou-se-me. não sou mais mais algarvio do que português.

da minha geração, fomos poucos os que regressámos. a maior parte de nós assentou arraiais nas cidades para onde fomos obrigados a emigrar para prosseguirmos a nossa formação académica. não pensava voltar, mas aconteceu. e durante os anos que estive fora, este algarve mudou consideravelmente. estou a falar dos anos 80 e da primeira metado dos anos 90. o turismo selvagem e a desordem urbanística tomaram conta de quase tudo, as vilas cresceram até cidades, prédio após prédio, sem espaços verdes ou qualquer planeamento que não fosse o da especulação imobiliária. o algarve foi vendido a retalho a não algarvios, que mais do que o amor à terra, tinham amor ao dinheiro fácil, quanto mais melhor. dirigentes autárquicos mal preparados, com vistas curtas e bolso aberto, completaram o quadro.

nos tempos em que o algarve vivia da agricultura e das pescas, a burguesia que controlava essas actividades fixava-se principalmente no barrocal e nas cidades. os terrenos à beira mar, improdutivos, estavam na posse dos "ramos mais fracos" das famílias. muitas vezes pessoas sem qualquer escolaridade ou formação, facilmente manipulável. muitos desses terrenos foram vendidos por tuta e meia.

continuo a sentir esta terra, este mar e esta areia entranhados na pele.

sábado, fevereiro 17, 2007

windows nl

gosto dos holandeses. não porque ache que são um povo superior ao nosso, mas porque têm a cultura da tolerância e do respeito pela liberdade individual. gosto das janelas holandesas, sem cortinas.


imagem retirada daqui.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

divas | patti smith

uma paixão de sempre, diva negra, uma mulher que se entrega de corpo e alma, figura incontornável da nova iorque dos últimos 30 anos, rocker, jornalista, poetisa, performer, capaz de abandonar tudo pelo amor e pela família, e de regressar viúva, fragilizada. autêntica, genuína, grandiosa.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

post de s. valentim




the most powerfull people on earth

via a vida breve

terça-feira, fevereiro 13, 2007

não s3ja, par3ça!

ser ou parecer? vivemos num ambiente social em que parecer é muito mais importante do que ser. parecer rico, parecer jovem, parecer culto, parecer intelectual, parecer cool, parecer dread, conforme os microcosmos sociais em que circulamos. ser é incómodo, obriga a opções reais, a reflexões interiores, à introspecção e ao auto conhecimento, e tudo isso dá imenso trabalho. compre um carro topo de gama, um ecran de plasma, um telemóvel 6ª geração, os últimos devices da tecnologia, poupe no bife, que ninguém vê aquilo que come, recorra a crédito sobre crédito. repuxe a face, aspire as gorduras, encha os lábios, injecte butox, implante cabelos ou aniquile-os a laser conforme a localização. finja que viu o filme que não viu, que leu o livro que não leu, saiba 3 ou 4 citações de cor sem saber quem as proferiu ou em que contexto. impressione os seus vizinhos, faça inveja aos seus colegas de trabalho, publique no seu blog frases complexas mesmo que não as compreenda, nunca cite autores conhecidos do grande público, diga que não gosta daquilo que gosta se os seus interlocutores não gostarem, ouça só a música que os outros ouvem, compre sempre roupa e apetrechos de marca, componha o cabelo milimetricamente ao gosto dos seus colegas. e sobretudo, não tenha veleidades de ser, porque além do esforço interior a que obriga, não lhe traz nenhum benefício. bem vindo ao século 21.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

post-referendo

votei sim. não concordo com o aborto, nem era isso que se perguntava, mas não consigo ver a criminosa que outros vêem, quando olho para uma mulher que tomou essa decisão. acredito firmemente que marginalizar um problema social não contribui em nada para a sua resolução, apenas o remete para a clandestinidade e para contornos indefinidos quanto à sua verdadeira dimensão e causas. quando a lei for aprovada e regulamentada, vamos finalmente poder falar de números fiáveis, conhecer o problema e os seus contornos. a transparência só faz bem às sociedades. espero que com este passo fiquem a nú algumas feridas do nosso tecido social. poder identificar e quantificar os motivos que levam as mulheres a dar um passo que deixa sempre profundas marcas psicológicas e muitas vezes físicas, vai obrigar a encarar essas situações de frente. precaridade de condições de vida, violência doméstica, pressões patronais, vão vir ao de cima. a necessidade de mais informação e educação sobre a sexualidade e os afectos, a identificação de casos patológicos que recorrem ao aborto como único método contraceptivo, a necessidade de uma verdadeira rede de consultas de planeamento familiar, irão ficar a descoberto. ou estarei a ser ingénuo?

constatação #9

tchiii, a miúda passou-se!...
pensamento que me ocorreu quando me deparei com tamanha enormidade.

nem sim nem não, tanto faz. (ou talvez não seja bem assim)

os portugueses decidiram, está decidido. com a abstenção técnica estimada entre os 5 e os 7%, fica no ar a dúvida se efectivamente mais de metade dos inscritos nos cadernos eleitorais, e em condições práticas de votarem, não exerceu o seu direito. não é que daí venha alguma diferença significativa dos efeitos do referendo, mas é difícil perceber porque é que os cadernos eleitorais não vão sendo actualizados à medida que as pessoas morrem, ou porque é que é necessário um cidadão recensear-se quando atinge a maioridade, e não é automaticamente incluido. a informática serve também para estas coisas, não é preciso ser muito inteligente para isto ser óbvio. adiante, deixemos os eleitores fantasma de parte, ninguém sabe ao certo quantos são.

a maioria dos portugueses decidiu que não queria saber do assunto. como em tantas outras coisas, os outros que decidam, quero eu lá saber, não me vou dar ao trabalho de levantar o cu do sofá, ainda se fossem saldos ou um jogo de futebol... quando a meio do dia se projectou a abstenção na ordem dos 63%, fui apanhado de surpresa. na minha ingenuidade, nunca tinha pensado num cenário em que o resultado não fosse vinculativo. depois de tanto argumento, tanto debate, tanta celeuma, pensei que os portugueses estivessem mobilizados para votarem e defenderem as suas convicções. o que talvez me tenha escapado é que para votar neste referendo era preciso ter convicções, ideias, conceitos, raciocínios, e o que me esqueci é que convicções, ideias, conceitos, raciocínios, não são propriamente atributos valorizados socialmente cá no burgo. mais uma vez a maioria dos portugueses disse que está cá para pastar e ver passar os comboios, para que os outros pensem e decidam por eles, para não se compremeterem, não vá a coisa dar para o torto e depois terem também responsabilidade no assunto. assim podem sempre continuar a dizer mal de tudo e de todos, alegremente desresponsabilizados da vida e das decisões colectivas.

sábado, fevereiro 10, 2007

é para isto que servem os telefones? #2

- estou?
- boa noite, estou a falar com o sr. nélio?
- sim, sim, diga...
- então boa noite sr. nélio. o meu nome é óscar tãozinho e estou-lhe a telefonar por causa do maravilha card. já ouviu falar?
- já sim, mas não estou interessado. já tenho um cartão de crédito e estou satisfeito com ele.
- mas o maravilha card é inteiramente grátis, não paga anuidade.
- olhe, desculpe, mas eu estava a jantar...
- ah, compreendo, não é o momento mais oportuno. a que hora é que podemos voltar a contactá-lo?
- não vale a pena voltarem a contactar-me. eu não estou interessado.
- mas o seu cartão já está pronto, só tem que levantá-lo na nossa agência.
- como? quem lhes deu autorização de emitirem um cartão em meu nome? eu não pedi nada...
- o senhor foi incluído na nossa promoção, só tem que levantar o cartão na nossa agência.
- olhe, eu quando preciso de crédito, sou eu que o procuro e peço. podem destruir esse cartão, não gosto nada destas jogadas. (pausa) boa noite!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

fotopost #4

muralha da cidadela, rabat, ilha de gozo, agosto 2006

constatação #8 seguida de pergunta impertinente

já não consigo ler nem mais um post nem mais um comentário sobre o referendo de dia 11. atingi o ponto de saturação. porque é que não paramos a campanha já hoje e não aguardamos calmamente por domingo? não sabemos já todos como é que vamos votar?
resmungo saturado de eleitor profundamente desiludido com o país onde vota

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

é para isto que servem os telefones? #1

- paiii! é para ti.
- quem é?
- não sei, é uma senhora que quer falar contigo.

- estou?
- boa noite! o meu nome é ana lógica e estou a falar da pt. deve ter recebido recentemente o nosso novo plano de preços.
- recebi, sim, mas não estou interessado.
- mas reparou bem nas nossas vantagens? só tem que desistir da pré-selecção para passar a usufruir das nossas vantagens.
- mas eu acabei de lhe dizer que não estou interessado.
- mas porquê?
- olhe, acho que não tenho que lhe dar explicações...
- pois não, realmente não, mas já viu quanto é que iria poupar?
- já lhe disse que não estou interessado!, nunca mais volto a ser cliente da pt, já disse isto várias vezes a colegas suas, até já pedi para me tirarem do vosso ficheiro, mas pelos vistos vocês não o fizeram.
- mas posso perguntar-lhe porquê?
- porque a pt se portou pessimamente enquanto foi a única operadora no mercado. (pausa) boa noite!

domingo, fevereiro 04, 2007

constatação #7

eles continuam a pensar que tudo se compra.

mulheres de leibowitz

os retratos que annie leibowitz fotografa são tudo menos banais. reconhecida como um dos melhores retratistas da actualidade, editou em 1999, em colaboração com a escritora susan sontag, o livro "women", uma visão da mulher actual, entre personagens famosas e anónimas. uma pequena parte desse trabalho encontra-se disponível aqui. algumas imagens para abrir o apetite:




missy giove, biker

gwyneth paltrow e blythe danner, actrizes

louise bourgeois, escultora

martina navratilova, tenista


vítima de violência doméstica

asabi romera e família, praticante da religião yoruba

sábado, fevereiro 03, 2007

questão impertinente

não deveríamos mais vezes rever aquilo que somos? Pormo-nos em questão permite corrigir rotas, descobrir a vida por outros prismas, arejar o bafio.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

não mexam no meu queijo

semana cansativa esta. tenho o serviço em obras. barulho de paredes a serem partidas, entulho a ser escoado por uma janela, tecto falso esventrado, fios e canos expostos e pendurados, milhentos aparelhos amontoados, sacos e sacos de tralha a saírem constantemente, invasões sucessivas de operários e carregadores, cacifos amontoados e desordenados. e no meio disto tudo uma equipa de profissionais que mantém a estrutura a funcionar, em condições precárias e temporárias, o improviso de novos circuitos e métodos.

trabalho num laboratório integrado num edifício com quase 30 anos e que nunca tinha sofrido qualquer remodelação. por laxismo, por desinteresse de chefias máximas e intermédias, por comodismo. quando falo em nenhuma remodelação, falo em remodelações de espaço, de orgânica, de distribuição de tarefas. apenas se foi actualizando tecnicamente. a mudança de chefia intermédia, motivou uma série de remodelações. tardia, a maior parte delas. o meu anterior director, cuja reforma foi uma das coisas boas 2006 e no cargo por mais de uma década, limitou-se a manter a estrutura herdada, deixando-a deteriorar-se até ficar quase irreconhecível, obrigando a maior parte das pessoas a entrar em autogestão. muitas vezes sem qualquer coordenação entre si.

trabalho, portanto num serviço em convulsão. as remodelações sucedem-se, as águas agitam-se. curioso assistir a pessoas, que antes criticavam o status quo, incomodadas por estas alterações. no fundo estavamos todos adaptados ao sistema. muitos criticavam mas na realidade não queriam que as coisas funcionassem, nem que fosse porque essa era a sua melhor desculpa para eles próprios não funcionarem também. ou funcionarem a meio gás. a maior parte estava adaptada à autogestão, com tudo o de mau e o de bom que isso significa, era preciso sobreviver.

curioso assistir, no meio da confusão, a pessoas verdadeiramente incomodadas porque o SEU cacifo (para muitos uma verdadeira extensão da sua casa, o seu espaço privado no espaço colectivo que é um local de trabalho) não se encontrava no local habitual. curioso também assistir a pessoas, que supostamente deveriam estar superactivas a coordenarem partes deste processo de desmantelamento e reconstrução, quase paralisadas e sem saberem por onde começar. curiosa, finalmente, a enorme vontade de rir que me dá, no meio da barafunda, quando paro por momentos e me ponho simplesmente a assistir.