sexta-feira, março 30, 2007

duplicidades

o que sabemos sobre nós próprios? como podemos garantir que a qualquer momento, sob determinadas circunstâncias, não emerge de nós um outro, desconhecido, que nos espante, e que sendo nós, não o é completamente, revelando-nos facetas que até aí ignorávamos?

lesão frontal ventromediana


tinha eu acabado de escrever, em comentário noutro blog, que não valia a pena fazer muito barulho à volta da vitória do "inominável" no último reality-show da r.t.p., era deixar morrer o assunto, e deparo-me com este cartaz, que deve corresponder ao execrável outdoor a que já tinha ouvido vagas referências, e pensei: os gajos estão mesmo a por as garras de fora. não pensei que o movimento pendular da história fosse tão rápido e que a memória fosse tão curta. talvez a extrema-direita portuguesa esteja mesmo com apetites de poder e a perder a vergonha e a reinvidicar exposição pública. em nome das regras democráticas e do princípio da liberdade de expressão, isto deverá ser tolerado, mas a principal fraqueza da democracia em sentido lato é que dá espaço para que os seus inimigos cresçam no seu seio, os exemplos a nível mundial são inúmeros. um problema insolúvel, pois a negação da liberdade de expressão fere de morte, à partida, a própria democracia. resta a confiança num povo esclarecido,que já se provou que não somos, numa cultura de vivência democrática interventiva e activa que já se provou que não temos também. fico preocupado.

fico preocupado quando se veiculam estas mensagens que vão contra o mais básico dos bons-sensos. imagino a humilhação que qualquer imigrante (que trabalha neste país e que contribui mais para a economia nacional do que estes betinhos engravatados, como o da foto), sente ao se deparar com isto em tamanho gigante. fico preocupado também com o texto que acompanha o cartaz no site do partido. quem quiser dar-se ao trabalho, vá lá e veja com os seus próprios olhos defender-se que só é português quem tiver pai e mãe portuguesa, que se acabem as políticas do reagrupamento familiar, que estudantes estrangeiros devem voltar ao seu país de origem mal terminem os estudos e que se termine com a livre circulação de pessoas e bens dentro da europa.

lembro-me, a propósito, do recente artigo de antónio damásio na "nature" em que se comprova que os doentes cujo córtex frontal ventromediano (zona do cérebro situada acima dos olhos) está lesado têm geralmente menores reacções emocionais de dimensão social (compaixão, vergonha, culpabilidade, empatia) sem que a sua inteligência e a sua lógica sejam afectadas. damásio vai mais longe ao afirmar que os déspotas têm lesões no seu sistema emocional. isso já eu sabia, mas dito por damásio tem outro peso. resta-me concluir, e com desprezo, que o beto tem as supramencionadas lesões.

quarta-feira, março 28, 2007

segunda-feira, março 26, 2007

coisas q'a gente quase não acredita #2

41% dos espectadores da r.t.p. estão a precisar de alguém que lhes diga o que hão-de pensar, como agir e como se comportar. o que podem ler e o que podem ver. e alguém que os torture e lhes limpe o sebo quando pisarem o risco. este país não tem vergonha na cara. não deixa de ser estranho que a r.t.p. não assuma a palhaçada até às últimas consequências e não divulgue no site do programa os resultados finais, mas sim os resultados de uma eurosondagem que dá a vitória ao gajo que batia na mãe.

domingo, março 25, 2007

break on through

"if the doors of perception were cleansed, everything would appear to man as it is, infinite" foi a estes versos de william blake que jim morrison, ray manzarek, robbie krieger e john densmore foram buscar o nome para a banda. em 1967 gravaram o primeiro disco que começava assim. o início de uma carreira meteórica de apenas 4 anos. jim morrison, o rebelde, o poeta, o provocador, o atormentado, morreria em 1971, em circunstâncias nunca esclarecidas. como todos os meteóros e cometas, deixou um rasto de luz no firmamento, que ainda hoje brilha.

constatação #12

gostava de reler o blog que não escrevi quando tinha 20 anos.

portugueses e europeus

1957 deve ter sido um ano giro. primeiro nasceu a r.t.p., depois o gaston lagaffe, depois a futura união europeia, com a assinatura do tratado de roma, faz hoje 50 anos, quando portugal era um país cinzento e sem liberdade, onde o medo andava à solta pelas ruas e onde pensar livremente podia ser fatal. portugal acabou por se juntar ao clube europeu quase 30 anos depois, um portugal renovado politicamente, mas com profundas marcas deixadas pelos anos de ditadura. marcas profundas em termos de organização, em termos de modelos de exercício do poder. a identidade nacional ainda comporta as lesões e cicatrizes deixadas por esses anos de poder absoluto e arbitrário, em que a noção de pátria não era vivida com orgulho, mas por obrigação. não é certamente por acaso que apenas muito recentemente nos reconciliámos, via futebol, com o nosso hino e a nossa bandeira. é normal os povos gostarem do seu hino e da sua bandeira.

somos hoje cidadãos europeus. a mim dá-me alguma segurança saber que não estamos apenas à mercê dos políticos cá do burgo, que numa série de matérias estamos dependentes dos ideais e das directrizes que vêm de bruxelas. o núcleo duro da união europeia é mais civilizado do que portugal. digo isto sem qualquer sombra de dúvida. são povos que valorizam a vida colectiva, com hábitos de serviço comunitário, com vontade de produzir, com orgulho nas realizações do seu povo. não passam a vida com invejas e mesquinhices, a tentar denegrir a imagem dos seus pares, ou a tentar abafar pela maledicência qualquer um que se atreva a ser bom e a aplicar-se naquilo que faz. não passam a vida a servir-se despudoradamente do bem colectivo em vez de servirem o bem colectivo. têm hábitos de rigor e de eficácia. conversam aberta e frontalmente para resolverem os problemas comuns em vez de fingirem que querem resolver os problemas comuns, quando nem sequer se sente interiormente o significado da palavra comum, e apenas se quer resolver problemas particulares.

não se pense que sou daqueles que olham com os olhinhos a brilhar para tudo o que vem de fora. nada disso. tenho orgulho em ser português, tenho orgulho em fazer parte desta história, deste povo. gostava que por uma vez fossemos capazes de dizer "prá frente portugal!" com a mesma alegria que os espanhois dizem "arriba espanha!", gostava que portugal fosse um projecto colectivo, que encarássemos os problemas sociais como problemas nossos, colectivos, que a educação dos nossos jovens, a reabilitação dos nossos deficientes, a fome dos nossos pobres, a qualidade de vida da nossa 3ª idade, fossem encarados como tarefas colectivas e não apenas como responsabilidades das famílias envolvidas directamente. que as cidades fossem construídas e planificadas com vista ao bem estar comum e não à mercê de obscuros interesses imobiliários dessa raça maldita da contrução civil, pessoas a maior parte das vezes sem qualquer formação e transbordando de deformação. que encarássemos as ruas e as praças do nosso bairro como nossas também e que o espaço pelo qual somos responsáveis não acabasse na porta das nossas casas, nos portões dos nossos jardins.

temos ainda tanto para aprender como povo europeu. temos tanto para convergir. as classes dirigentes têm que compreender que dirigir é coordenar, é aproveitar o melhor que cada um dos elementos da equipa tem para dar ao objectivo comum. que chefiar não é encerrar-se num gabinete, rodeado de dois ou três lambe-botas. que a antiguidade não pode ser um posto. que as ideias dos colaboradores não devem ser encaradas como uma ameaça ao exercício da chefia.

convergir, sim, mas não na hora. somos um povo, temos que produzir para o bem estar comum, não somos meros objectos ao serviço da economia. é absurdo que alguns empresários nos queiram voltar a impor a hora central europeia, experiência já tentada e falhada em 1996. não brinquemos com as pessoas e os ritmos biológicos. não obriguemos toda a gente a levantar-se ainda de noite durante o inverno, ou a ter luz do dia depois das 22 horas no verão, só porque isso facilita as transações económicas. a economia tem que estar ao serviço das pessoas, não são as pessoas que têm que estar ao serviço da economia.

sábado, março 24, 2007

desafio 7

a última moda na blogosfera é o desafio dos 7. espalha-se à velocidade dos vírus informáticos e está a chegar por estas bandas. nunca gostei particularmente destas coisas, mas se não podes vencê-los… só que para subverter um pouco a coisa, vamos inventar novas categorias.

7 coisas que gosto no dia a dia e que nem sempre acontecem
- cumprimentar toda a gente, de preferência com o nome da outra pessoa
- olhar o infinito
- café, água das pedras e jornal numa esplanada solarenga
- cuidar do jardim
- a frescura dos lençóis ao deitar
- ter tempo para ler e ouvir música
- jantar em família sem discussões

7 coisas que não gosto no dia a dia e que acontecem demasiadas vezes
- que me substimem, só porque até sou um gajo porreiro (deixo logo de o ser)
- que me tentem “pisar os calos”
- gajos stressados no meio do trânsito
- xeno, homo e outras fobias do género
- funcionários que não funcionam
- o triunfo dos porcos
- ouvir o nuno markl na antena 3

7 coisas fascinantes nas sociedades modernas
- a internet em geral, com destaque para a blogosfera
- a one.org e o greenpeace
- o parkour
- os graffitties
- os avanços da ciência
- a liberdade criativa
- as tribos e a diversidade

7 coisas detestáveis nas sociedades modernas
- o telemarketing, o spam e a publicidade porta-a-porta
- a hegemonia dos e.u.a.
- os cú-lambistas
- o consumismo desenfreado e acéfalo (e as famílias passeando aos domingos pelas grandes superfícies)
- as imagens subliminares e a manipulação de massas
- os reality-shows
- os atropelos ao planeta

7 ódios de estimação
- nuno markl (pensando bem, o bichinho até é giro)
- george w. bush
- a vocalista dos evanescence (mas não há quem a cale?)
- paulo portas, santana lopes e alberto joão jardim (mas enfim, a corte precisa de bobos)
- os automóveis marca mercedes
- o macdonald’s
- o que está “na moda”, seja em que campo for

7 coisas que digo frequentemente (esta é do desafio original)
- bom dia
- não discutam
- está tudo louco
- ok
- não vejas televisão, vê programas de televisão
- despacha-te!
- yap

9 autores de bd irresistíveis (sim, nove, é a 9ª arte)
- bilal
- hugo pratt
- comés
- will eisner
- miquelanxo prado
- françois bourgeon
- hermann
- franquin
- moebius/jean giraud


that's it! agora deveria indicar as 7 próximas vítimas, mas não me apetece.

sexta-feira, março 23, 2007

save the water

foto: epa/mast irham, retirada do portal sapo
.
no futuro, as guerras serão por causa dela. ontem foi mais um dia mundial da água.

parkour e yamakasi

levar mais longe as capacidades do corpo e da mente. o parkour, ou arte da deslocação, criado pelo francês david belle, quando tinha apenas 15 anos e a partir dos ensinamentos do seu pai, raymond belle, antigo combatente francês no vietname, que por sua vez, com outros soldados franceses, tinha criado o "parcours du combattant" inspirado no "método natural de cultura física" de georges hébert, desenvolvido nos inícios do século 20. o objetivo do parkour é mover-se do ponto A para o ponto B da maneira mais eficiente e rápida possível, usando as habilidades do corpo humano. os seus praticantes (traceurs) não o consideram um desporto radical, assemelham-no mais a uma arte marcial. a característica principal nesta arte, está na sua eficácia. um traceur não só se move o mais rápidamente possível, mas de maneira a gastar o mínimo de energia e evitar lesões a curto e longo prazo. o yamakasi deriva do parkour, mas acrescenta-lhe a componente estética e espectacular, introduzindo mortais e piruetas na sua prática. antes dos percursos urbanos, o traceur precisa de um treino intensivo em ginásio e em segurança. nada se faz de improviso, a parte teórica da coisa está perfeitamente estabelecida. escapar e chegar, são as duas noções chave do parkour. sem dúvida, um dos aspectos mais fascinantes da moderna cultura urbana.

quinta-feira, março 22, 2007

poema sem crer

da poesia, da árvore, da primavera.
os anos andam curtos
ultimamente.
os dias andam curtos
ultimamente. escapam-se entre os dedos, entre o rápido avançar
dos ponteiros. passa a fronteira da meia-noite,
que afinal não fica no meio, nem da noite, nem de nada, novo dia
recomeça, embora ainda noite seja. tontos
de tanto rodar no espaço, nada de novo nos espera.

devo hoje ler um poema? da poesia já foi ontem,
hoje será do teatro, da música, da fome,
da guerra?
devo então plantar uma árvore? fazer um filho,
escrever um livro? pintar-me de cores garridas? ser criança,
talvez, ou lutar pela liberdade? de não ler, de não ligar,
ao dia, à noite, ao lugar?
de inventar os meus próprios dias, de escolher
o que quero
celebrar.

falas de civilização...

falas de civilização, e de não dever ser,
ou de não dever ser assim.
dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
com as coisas humanas postas desta maneira,
dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
escuto sem te ouvir.
para que te quereria eu ouvir?
ouvindo-te nada ficaria sabendo.
se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
ai de ti e de todos que levam a vida
a querer inventar a máquina de fazer felicidade!

alberto caeiro

terça-feira, março 20, 2007

santiago calatrava #1

um nome incontornável na arquitectura contemporânea. ouvi pela primeira vez o seu nome em barcelona a propósito da impressionante estrutura que é a torre de telecomunicações de montjuic, também conhecida por torre telefonica, fixei-o depois como projectista da estação do oriente, e desde aí sigo atentamente o seu percurso. a dupla formação como arquitecto e engenheiro, aliada a uma criatividade ímpar, impuseram-no como criador de edifícios emblemáticos, desafiador de estruturas, com lugar de destaque já marcado, quando se fizer a história da arquitectura do início do século 21. usa criteriosamente o betão, o aço e o vidro, que se tornam os instrumentos que dão corpo à sua imaginação profícua. valenciano, não esconde a sua admiração pelo mestre catalão antoni gaudi. fez nome concorrendo a concursos promovidos por entidades públicas e privadas um pouco por todo o mundo, sendo hoje um dos nomes mais procurados na sua área. tem a particularidade de ser também escultor e de alguns dos seus edifícios serem criados a partir de esculturas ou desenhos de figuras humanas, como é o caso da torre de montjuic, criada a partir do desenho de uma figura ajoelhada fazendo uma oferenda. este era para ser uma post único, mas dada a quantidade de edifícios avassaladores, tive que repartir por vários. mesmo assim, alguns ficam de fora, ficam apenas os incontornáveis. para hoje, o período até 1998, ano de conclusão da estação do oriente. o site do arquitecto é de um bom gosto irreprensível. não poupo nos elogios, sou fã.
.
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torre telefonica, barcelona, 1992


allen lambert galleria, bce place, toronto, 1992




gare de lyon, lyon, 1996




gare do oriente, lisboa, 1998



sexta-feira, março 16, 2007

a.e.i.o.u.

não, não voltei aos bancos da escola, nem estou a referir-me à sequência pela qual nos habituamos a enumerar as vogais. de repente apercebo-me, via citizen mary, de que estamos em pleno ano europeu da igualdade de oportunidades para todos- a.e.i.o.t. já houve tempos em que estas iniciativas me entusiasmavam, agora impera em mim em grande cepticismo. muito bem, o plano nacional de acção já tem o seu site pronto. podem visitá-lo e ver que se pretende a igualdade de oportunidades para todos os indivíduos, independentemente do género, tom de pele, orientação sexual, eficiência motora ou sensorial, idade ou credo religioso. lindas palavras, lindas ideias, mas haverá algo mais do que isso? as o.n.g. já têm as suas actividades programadas, há concurso de fotografia, exposições itinerantes, mas bem me quer parecer que o ano em si vai-se diluir nessas iniciativas e no final vai estar tudo na mesma. senão vejamos.

estamos a 16 de março e a maior parte dos cidadãos deste país não ouviram ainda falar da iniciativa. divulgação nos media, spots publicitários, praticamente zero. não parece haver muita vontade em falar do assunto.

igualdade de oportunidades independentemente do género. num país onde a maioria dos licenciados é do sexo feminino e onde a maioria dos quadros das empresas é do sexo masculino. onde os negócios se fazem em jantares de cariz eminentemente masculino e não em reuniões que acabem a tempo de ir buscar os filhos à escola. onde as próprias mulheres continuam a dizer que o marido é muito bom porque até ajuda lá em casa. onde na carreira docente (estatuto aprovado já este ano, curiosamente) as mulheres são prejudicadas em termos de progressão, sendo-lhes descontado o tempo de licença de parto ou à cabeceira dos filhos com febre, onde um alto elemento do m.e. aconselha as mães a confiarem os filhos a vizinhos para estes os acompanharem a consultas médicas. onde mulheres continuam a ser despedidas por engravidarem.

igualdade de oportunidades independentemente do tom da pele. num país onde "tanto se aperta a mão a um branco como o pescoço a um preto", onde teoricamente não há racismo, até porque somos por definição de brandos costumes, mas na prática, no imaginário da populaça, pretos e ciganos estão associados a delinquência, onde o argumento que os imigrantes ocupam os lugares de trabalho dos portugueses tem inúmeros adeptos.

igualdade de oportunidades independentemente da orientação sexual. pois! como se o casamento entre indivíduos do mesmo sexo já estivesse aprovado. num país onde quase não há figuras públicas assumidas, onde se usam insinuações quanto à orientação sexual dos adversários em plena campanha eleitoral e a laracha é depois reproduzida até à exaustão pela turba achincalhadora.

igualdade de oportunidades independentemente da deficiência. por favor! nem a lei das acessibilidades, aprovada há não sei quantos anos, está aplicada. nem sequer é fiscalizada. a maior parte das repartições públicas continua a não ter acesso para cadeira de rodas, escolas de 3 pisos sem um único elevador. leiam este estudo da deco e vejam as dificuldades com que cidadãos portadores de deficiência têm que lidar no dia a dia. a trabalhar, uma minoria, dobragem em língua gestual, quase inexistente. nas escolas, que se pretendem inclusas, uma confrangedora falta de formação do pessoal docente e não docente. a imagem nacional do deficiente e dos seus familiares continua a ser a de coitadinhos.

restam a idade e o credo religioso, porventura os factores menos discriminatórios, mas mesmo assim, perder o emprego a partir dos 40 continua a ser um drama, continuam os escândalos com os lares para a terceira idade sem um mínimo de condições dignas, continuam idosos a serem abandonados nos hospitais, indo alguns familiares ao cúmulo de fornecerem números de contacto falsos. e continua também uma importante fatia da sociedade a querer impor os seus valores, os seus dogmas de fé, como se fossem universais.

podem-me dizer que se tudo já estivesse resolvido não seriam necessários estes anos disto e daquilo, mas diz-me a experiência, infelizmente, que nada ou muito pouco vai mudar. não vamos ter um a.e.i.o.t., mas sim um a.e.i.o.u., um ano europeu de imensas oportunidades para uns. sim, porque somos todos iguais, mas uns mais iguais do que os outros.




Resolução do Conselho de Ministros n.o 88/2006 (introdução)
No intuito de alcançar uma sociedade mais justa através da promoção da igualdade e da não discriminação, o Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia designaram o ano de 2007 como o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos. Como é afirmado no âmbito da Estratégia de Lisboa, o relançamento do crescimento é vital para a prosperidade e constitui a base da justiça social e da igualdade de oportunidades para todos. Estes objectivos, todavia, serão difíceis de concretizar enquanto grupos sociais com expressão significativa na população portuguesa estiverem excluídos de um emprego, de uma formação ou de outras oportunidades. Para desenvolver uma sociedade inclusiva e uma economia mais competitiva e dinâmica, colhendo os frutos da diversidade, torna-se imperativo eliminar os factores de discriminação que possam subsistir em razão do sexo, origem racial ou étnica, religião, deficiência, idade e orientação sexual.

quarta-feira, março 14, 2007

saldos * rebaixas * sales

as leis do mercado e da concorrência chegaram finalmente ao mundo dos medicamentos. no novo estatuto do medicamento publicado hoje em diário da república, são introduzidas uma série de modificações entre as quais consta a possibilidade de haver descontos em todo o circuito comercial, dos grossistas aos retalhistas, e prevê a possibilidade de as farmácias anunciarem esses saldos nas suas instalações. por isso preparem-se para, ao entrarem num destes estabelecimentos cada vez mais comerciais, se depararem com o "clássico" pague 2 leve 3 aplicado às pílulas contraceptivas, ou "clavamox xarope, 30% de desconto na compra de 4 embalagens" ou ainda "anti-inflamatórios, restos de colecção, 1,50 €".

segunda-feira, março 12, 2007

constatação #11

o único líder credível da oposição é o ricardo araújo pereira.
vox populi

domingo, março 11, 2007

as assinaturas de franquin

foi um rasgo criativo impar. iniciado nas pranchas de gaston lagaffe e depois prosseguido nas suas idées noires, franquin começou aos poucos a condicionar a forma da sua assinatura à temática do gag. porventura a sua maior imagem de marca, essas assinaturas tornaram-se autênticos objectos de culto entre os aficcionados e ganharam até existência tridimensional em objectos disputadíssimos entre os coleccionadores.































50 anos de gaffes


gaston lagaffe fez 50 anos no dia 28 de fevereiro. quer isto dizer que é pouco mais velho que a r.t.p., mas esta efeméride vale a pena ser assinalada. gaston não foi apenas o primeiro anti-herói da b.d. francobelga, não é apenas o terror da redacção da revista spirou, o assumidamente preguiçoso que invariavelmente vira o seu local de trabalho de pernas para o ar. é também uma personagem cheia de ternura, irreverente, irremediavelmente romântico, defensor dos animais até às últimas consequências, amigo fiel, criativo. andré franquin, o seu inspirado autor, dotou-o de uma personalidade complexa, muito para além do trapalhão inconsequente. ao longo de quase 40 anos (o último álbum data de 1996 e o autor morreu no princípio de 1997), franquin deu vida ao seu gaston, transferindo para ele algumas facetas da sua personalidade: o antimilitarismo, a consciência ecológica, a resistência à autoridade. com gaston, franquin inventou ainda um standard da b.d. francobelga: o gag de uma página, que viria a ser seguido por toda uma série de autores e personagens como o achille talon de greg ou o cubitus de dupa. impressionante é a galeria de personagens secundárias, com destaque para o sr. de mesmaeker e os seus eternos contratos, a gaivota e o gato, a eterna apaixonada m.elle jeanne, os compinchas jules e bertrand, o polícia longtarin, os colegas de franquin na revista spirou e inclusivamente o próprio franquin, autoretratado na desenho acima. de mencionar ainda a galeria de invenções com que gaston inferniza a vida dos seus colegas de trabalho, com especial destaque para o incrível gaffophone, um instrumento de cordas capaz de destruir qualquer estrutura de betão com as suas vibrações. gaston alimentou o meu imaginário a partir da adolescência e ainda hoje, relê-lo, é um enorme prazer. visita obrigatória ao site oficial de lagaffe.

sábado, março 10, 2007

coisas q'a gente quase não acredita #1

o grupo mello anuncia que nos seus estabelecimentos de saúde não se pratica a reprodução medicamente assistida, nem laqueações de trompas, nem vasectomias, nem se administra a pílula do dia seguinte. tudo isto em nome da defesa absoluta e do respeito pela vida. a ordem dos médicos diz que no sector público não poderia ser, mas sendo um grupo privado, nada a comentar. e pílulas contraceptivas? será que receitam? às vezes sinto-me como se fosse um e.t.

quinta-feira, março 08, 2007

8 de março

cristina sampaio, lugares de chefia

segunda-feira, março 05, 2007

3clips3

foto pilhada do portal sapo

vibro com estes espectáculos cósmicos...

domingo, março 04, 2007

experiência

banda sonora para ler (e comentar...) a citação do thoreau.

constatação #10

a massa nunca se eleva ao padrão do seu melhor membro; pelo contrário, degrada-se ao nível do pior.
henry david thoreau, escritor e ensaísta norteamericano

sexta-feira, março 02, 2007

a idade do meu fim

antónio variações continua a ser um caso único no nosso panorama, o cantautor genuinamente pop. desde que ouvi o projecto humanos, esta foi a que mais me chamou a atenção, não só pela malha construida para suportar o tema, mas também pelo refrão tão simples e tão profundo, ao melhor estilo do autor. não se pode deixar de pensar até onde teria ido o génio se o maldito vírus não o tivesse levado tão cedo. este post também se podia chamar divas | manuela azevedo.

quinta-feira, março 01, 2007

markl? não, obrigado

ok, confesso, eu não gosto do markl. contamina-me a antena 3, obriga-me a mudar de estação. o markl irrita-me. já me irritava aquela postura de gajo que foi sempre o patinho feio, caixa d'óculos, sem interesse para as miúdas, que levava sempre porrada no recreio, etc, mas tornou-se insuportável desde que inventou "a idade dos porquês". aquilo não tem a mínima piada, não tem lógica, como exercício de non-sense é demasiado fraco. é tempo de antena completamente desperdiçado, pago com o dinheiro dos contribuintes, ainda por cima. ainda por cima também, tem direito a repetição ao fim da tarde, ou seja, se tenho a sorte de perder a edição matinal, raramente me escapo à vespertina. se calhar é apenas inveja por saber que um gajo ganha dinheiro a inventar absurdos idiotas sobre temas tão prementes como "porque se forma o cotão nos cantos das nossas casas" (o brilhante tema de hoje). se eu fosse colega do markl, não havia intervalo em que eu não lhe desse porrada no recreio.