segunda-feira, outubro 29, 2007

mas por outro lado, somos campeões em telemóveis e em árvores de natal

apenas metade dos portugueses leu um livro no último ano. os portugueses são dos europeus que menos participam em actividades culturais, tendo apenas metade lido um livro no último ano e um quarto visitado um museu ou galeria, segundo um estudo divulgado hoje em bruxelas pelo eurostat. notícia completa aqui.

domingo, outubro 28, 2007

constatação #25

nunca li nada da doris lessing. nem do al gore.

descubra a diferença

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as imagens que se reproduzem acima têm uma diferença. além das óbvias diferenças de ampliação e de gama de cores, a imagem do direita foi manipulada por uma revista francesa de grande circulação. a fotografia da esquerda foi a que foi captada pela objectiva do fotógrafo, a da direita a que foi publicada e vista por muitos milhares de cidadãos franceses. a diferença é subtil. se observarem bem, na foto da direita falta o pneu de banha logo acima do cós dos calções de sarko. modificando uns pixels, prolonga-se o negro do encosto lombar e redesenha-se a silhueta de sua excelência o presidente da república francesa. a necessidade de vender políticos aplicando as leis de formatação social da publicidade e da manipulação de massas está para ficar. redesenham-se silhuetas da mesma maneira que se acentuam texturas e nuances cromáticas labiais em anúncios onde se quer evidenciar os sinais biológicos do desejo feminino. a grande diferença está nos contornos morais da(s) questão(ões). se manipular para aumentar as vendas de um produto com vista ao aumento dos lucros é relativamente aceitável, e o funcionamento do mercado torna inquestionável, vender políticos já apresenta contornos morais mais que duvidosos. a exploração, por parte dos acessores de imagem, de factores de adesão subliminares, não é novidadade no mundo da política. A fotografia oficial do candidato há muito que é retocada, estudada ao pormenor, e as possibilidades de manipulação da imagem oferecidas pelas aplicações informáticas são ferramenta utilizada frequentemente na optimização do produto final. mas perante isto, torce-se o nariz, não se concorda muito, mas passa-se à frente. a passagem dessa manipulação para a imprensa é que já é mais preocupante. um sinal dos tempos, sem dúvida. tempos em que a actividade política serve interesses dissimulados, para não dizer obscuros, e em que o cidadão, o eleitor, é encarado como matéria moldável. até que ponto é que somos livres?

quarta-feira, outubro 24, 2007

evasão #1

rasgar janelas de papel e voar nas cordas do violoncelo.
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étude vert, 1929

zebrák, 1939

étude de mouvement, 1939

catch, 1945

zèbres, 1950

yapoura, 1951


imagens: victor vasarely
música: elsiane, in a crisis




segunda-feira, outubro 22, 2007

colour like no other

os anúncios aos sony bravia fazem as delícias de qualquer apreciador da criatividade do bicho-homem. se toda a publicidade fosse assim, eu via mais televisão. que eu saiba, a campanha não tem sido difundida por cá, o que é uma pena.


filmado em san francisco, 250000 bolas "saltitonas" foram lançadas na rua mais íngreme da cidade.


filmado em glasgow, 70000 litros de tinta "environmentally friendly", 1700 detonadores


filmado em new york usando animação "stop motion" e muitos kilos de plasticina.


filmado no cairo, 10000 rolos de fitas para embrulho.

domingo, outubro 21, 2007

a fragilidade da (nossa) existência

a sequência final da fabulosa série "6 feet under". muito se escreveu ao longo de toda a história da humanidade sobre a brevidade da vida, e não serei eu a acrescentar algo de substantivo. "6 feet under" sempre foi uma série que me reconciliou com a vida, por muito estranhos que fossem os acontecimentos que eu estivesse a viver no meu dia a dia. e, como em todas as vidas, por vezes parece-me que a realidade ultrapassa largamente a ficção. nem sempre estamos dispostos a lidar com, e a encarar de frente, a fragilidade da (nossa) existência, mas essa tomada de consciência ajuda-nos a viver os períodos mais "estranhos" das nossas vidas com um toque de relatividade e de desprendimento. como se olhássemos de fora para dentro.



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quarta-feira, outubro 17, 2007

cinismos e contracensos

dia internacional da erradicação da pobreza, desperta contra a pobreza, campanha pobreza zero. há uns anos atrás, teria estado , a despertar, mas hoje, um enorme cepticismo baseado na experiência e na observação impede-me de me entusiasmar com este tipo de eventos. despertar? a pobreza é um dado novo nas nossas existências? chamar a atenção dos líderes políticos de que é preciso fazer mais e melhor contra a pobreza? alguém acredita que eles não tenham consciência do mundo em que vivem, da pobreza nos seus próprios países? sendo um problema transversal, atinge todos os países. é um ponto sem nó. não é novidade para ninguém que a capacidade produtiva do planeta é suficiente para todos os seus habitantes e que a pobreza resulta pura e simplesmente da divisão desequalitária da riqueza. entre os países e dentro dos países. perdoem-me o desabafo, mas cada vez o mundo se torna mais incompreensível. lutar contra a pobreza vai contra os princípios básicos do capitalismo dominante, que o mundo rejubila por ter levado a melhor sobre o comunismo. então a palavra de ordem não é arrecadar o mais possível? então o crescimento económico e o crescimento do poder das empresas não é o novo graal? só posso concluir que os chamados objectivos do milénio para 2015 foram um enorme acto de cinismo, e que a maior parte dos líderes mundiais que assinaram o documento na o.n.u. tinha os dedos cruzados atrás das costas e davam risadinhas interiores durante o acto, quais meninos mal comportados quando mentem com convicção.
e depois, a pobreza e a desgraça fazem parte dos ícones obrigatórios em qualquer serviço noticioso. para o povo sentir aquele incomodozinho e ficar muito feliz porque ainda tem umas résteas de sensibilidade no sistema límbico. depois vem o futebol e a telenovela, e tudo passa. mas fica a sensação de que somos muito solidários. não importa que no dia seguinte olhemos os pobres da nossa comunidade com desdém e pensemos que são assim porque não querem trabalhar. que pensemos que os pretos não têm emenda e que nunca conseguirão fazer e manter um país decente. salvam-se alguns idealistas, que por erro genético e desadequação social vão mantendo vivas estas chamas. ou não passa tudo de um imenso folclore?


música: death of an idealist, iLiKETRAiNS





domingo, outubro 14, 2007

constatação #24

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a autofagia é um espectáculo pornográfico. passo bem sem ver as tripas de um partido.

sexta-feira, outubro 12, 2007

claro como água

"sou feliz só por preguiça. a infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção de alma que nem chegou a falecer."

mia couto

quarta-feira, outubro 10, 2007

i'm in rainbows



já por cá toca. para já, as 3 músicas que mais marcaram uma primeira audição. 15 step, weird fishes/arpeggi e all i need. não é todos os anos que temos um novo radiohead para descobrir.

terça-feira, outubro 09, 2007

o triunfo dos porcos

José Rodrigues dos Santos foi suspenso de funções e será alvo de um processo disciplinar para o seu despedimento. Em causa estão as declarações do pivot numa entrevista ao 'Público' e um artigo publicado no 'Diário de Notícias' sobre o tempo em que foi director de informação da RTP e as interferências governamentais no canal do Estado.

rodrigues dos santos disse apenas o que todos já sabíamos. a administração da r.t.p. confirma, ao tomar esta posição. quem fôr muito tapadinho que acredite nessa história da carochinha da vitimização e da necessidade de protagonismo. e eu pergunto: não estão fartos desta gente cinzenta a tomar-nos por parvos e a tapar o sol com a peneira?

domingo, outubro 07, 2007

in rainbows



já se sabe há uns dias, o novo dos radiohead estará disponível para download a partir do dia 10. a encomenda pode ser feita num site criado especificamente para o efeito, e o freguês só paga o que quiser. disco, no sentido físico da questão, só a partir do dia 3 de dezembro, anunciando-se uma caixa com diversos suportes, incluindo o vinil. as encomendas fazem-se no mesmo sítio. a maior parte do material são canções que os radiohead já ensaiaram ao vivo, parte delas com alguns anos de existência. a rolling stone faz uma "preview" faixa a faixa, com recurso a vídeos retirados do youtube. só boas notícias.

pilhagem #5

Ela: "'O idiota'? Isso é a biografia do Nuno Markl?"
Eu: "Meu, é um livro do Dostoiévski".

pilhado ao inclassificável o melhor blog do universo

janis e inês

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quis o acaso que recentemente tenha andado às voltas com duas "personagens" femininas que aparentemente nada têm em comum: inês de castro, através da leitura do romance histórico que maria pilar queralt del hierro escreveu, e janis joplin, através da audição duma colectânea comprada ao desbarato numa grande superfície. separadas pelo tempo, duas mulheres que viveram vidas em pleno, duas personalidades fortes e determinadas. têm em comum o fim trágico, uma às mãos dos esbirros de d. afonso IV, a outra às mãos de uma overdose de heroína. perduraram as duas para além do seu tempo, uma pela voz única, a outra pelo amor que a uniu a d. pedro de portugal. das duas perdura também o fim prematuro em tom de tragédia, devoradas pelas sociedades que as rodearam. mas se os fins foram trágicos, as existências foram gloriosas, pessoas que se cumpriram e viveram intensamente. o mesmo não se pode dizer de muitos de nós, nesta sociedade actual de vidas cinzentas e pouco ou nada cumpridas. rainhas por um dia ou escravas toda a vida, reis por um dia ou escravos toda a vida, o velho dilema existêncial.

pergunta de bolso #6

porque é que a r.t.p. comemorou o dia mundial do animal (4 de outubro) com a transmissão, em directo do campo pequeno, de uma tourada?

sábado, outubro 06, 2007

how to get sick

a sic fez 15 anos. para comemorar, uma parada que vejo por breves momentos. foram demais. o leão branco do circo cardinalli não era o único bicho raro a desfilar. as "estrelas" da estação são muito mais raras do que o leão. duvido que haja muitos profissionais de televisão assim tão imbecis. as televisões não são como as pessoas, que vão ficando mais inteligentes à medida que crescem. pelo menos algumas. recordo-me da lufada de ar fresco que foi a sic quando apareceu. actualmente não é nada, a não ser uma parada de imbecilidades. a tvi, pelo menos, é assumidamente pimba. a sic nem isso.

quinta-feira, outubro 04, 2007

um post pela birmânia




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Free Burma!



(clique na imagem)

too much stupid to be serious or not so funny to be a joke?

é já hoje

Free Burma!
(clique na imagem)


eu sei que estas coisas são principalmente simbólicas e não mudam o curso da história, funcionam mais como um alívio das nossas consciências e preenchem a nossa necessidade de sermos solidários, mas não podia deixar de aderir e divulgar.

quarta-feira, outubro 03, 2007

do vazio

são estas coisas que abalam a minha esperança e a minha confiança nas gerações futuras. por outro lado, é bom saber que não perdemos a capacidade de nos espantarmos. deambulando de blog em blog, chego a um que me deixou siderado pelo espanto, que agradeço visitem antes de prosseguir a leitura deste post. agradeço também que leiam o comentário que o seu autor deixou num outro blog, onde se construía um post em estilo jucoso à volta da celebérrima apresentadora fátima lopes.

já leram?

então prossigamos:

os factos podem parecer banais, mas não são. preocupa-me sobremaneira que um jovem de 17 anos, com acesso a toda a tecnologia e ao conhecimento disponíveis, que caracterizam a sociedade ocidental deste século, desperdice desta maneira os neurónios. como é que se constrói uma personalidade cujo objectivo é ser socialite, que é um adjectivo que eu pensava ser pejorativo? é grave que a formatação imposta pelas revistas do social levem ao aparecimento destes comportamentos aberrantes. e depois, este sofrer das dores alheias, o que é isto? e esta disponibilidade para aparecer em festas, como se pode explicar? como é que alguém no seu perfeito juízo pode afirmar que viverá toda a sua vida para ver sorrir a maya? como é que o cérebro duma sopeira foi parar ao corpo deste rapaz?

segunda-feira, outubro 01, 2007

dia mundial da música



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gosto de estruturas complexas, de harmonias difíceis, de ritmos compulsivos e hipnóticos, de melodias desconhecidas. mas gosto também de músicas depuradas até à sua essência, dos espaços de silêncio entre os sons. gosto de ideias novas, de territórios pouco explorados, da miscigenização, do cruzamento de linguagens, do inclassificável. grande parte de mim é música, vive da música. por muito que me atraiam as palavras, é na música que encontro repouso perfeito, reconforto, plenitude. sempre foi assim, e sempre assim será, mesmo que um possível retrocesso tecnológico da humanidade me prive dos registos actuais que servem de veículo à difusão da música. uma simples sucessão de sons desperta em mim uma melodia. qualquer cadência de sons prolonga-se interiormente, adquire estrutura e transforma-se num ritmo. vivo música, respiro música. não ligo a estilos. ao longo dos anos já me fixei na pop, no rock, no jazz, na world, na clássica, na contemporânea, no hip-hop, no lounge, no trance, na barroca, na antiga, na tribal, na indie, na alternativa e em todas as outras gavetinhas com etiquetas diversas, em que os críticos se esforçam por compartimentar a música. e em todas elas encontrei motivos de surpresa, de deleite, de prazer profundo. gosto de sons novos, diferentes, daqueles que a princípio se estranham e depois se entranham. mas gosto também dos sons que transportam e evocam as culturas que os viram nascer há muito tempo.
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e depois há aquelas músicas que nos tomam pelas entranhas, percorrem cada fibra nossa e provocam estados emocionais que as palavras não abarcam. músicas que anulam qualquer racionalidade, que nos transportam e nos prendem a cada nova batida, a cada novo acorde. que nos fazem sair do tempo e nos deixam suspensos num lugar semelhante ao vácuo. apenas a música e a nossa percepção, ela, a música, a fluir pelos poros, pelas artérias, pelos neurónios. são momentos únicos na existência. atingem a transcendência.
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há uma música interior que nunca me abandona, que se constrói com os sons do quotidiano. há uma música interior que nunca se cala, que me acompanha em qualquer situação, feita de retalhos sonoros que se estruturam. a mais pura das artes, a mais etérea.
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banda sonora: eno+byrne - regiment; the cinematic orchestra - all things; the cure - all cats are grey