sexta-feira, julho 25, 2008

the architect

viciante.

terça-feira, julho 22, 2008

entre o riso e as lágrimas

nós nunca deixamos de ser fundamentalmente novos, condenados a ter vários rostos e incapazes de fazer coincidir a nossa intenção com o olhar dos outros. o mundo é uma feira de mal-entendidos que alimenta todas as anedotas e todas as tragédias. a tragédia é ontologicamente igual à comédia - entre o riso e as lágrimas, entre o bem e o mal, não há senão uma cómoda diferença de perspectiva. e a perspectiva foi um mecanismo de defesa do homem face ao absurdo da existência.

inês pedrosa, in a perfeição da clarabóia que falta
(introdução à edição do círculo de leitores de o livro do riso e do esquecimento de milan kundera)

inevitável

porque o homem pensa e a verdade escapa-lhe. porque quanto mais os homens pensam mais o pensamento de um se afasta do pensamento do outro.

milan kundera in a arte do romance

terça-feira, julho 15, 2008

und3rmusic #18 oh your god

isto entra dentro da minha classificação de músicas de verão. oh your god, incluída em vantage point, o registo de 2008 dos dEUS. gosto muito.







went down for an ashtray, came back up with a hammer
it's hard to concentrate when no one you know
is in the know
yeah scientists they do insist
my friends, man, they're all depressed
as i'm trying to get to the gist
and into the aftershow

so i rattle on a little while
find a principle for my style
any number i'm gonna dial
i know someone will accommodate

i spoke too much, i wanna fight
repeat the same shit i said last night
did 34 push-ups
… should have done 68!

i believe in anything
as long as it just has that ring
of truth and i can lay down my head
cause i've seen so many people lost
i still believe at any cost
that we musta been misled

oh your god!

so it tragedy would make you feel
you need a divine drug to heal
and a better god, cuts a better deal,
that's what you got

see i'm stuck in this ungodly game
and i only have myself to blame
in the name of the father, in the name of fame,
in the name of what?
in the name of something bigger
your god can only snigger
and the sight of all this rigour
with sex the only trigger
for love… or was it the other way round?

cause it's only beauty that makes me sweat
and to me it seems the best bet yet,
in your head or in your bed
that's my hallowed ground

cause i believe in anything
as long as it just has that ring
of truth and I can lay down my head
cause i've seen so many people lost
i still believe at any cost
that we musta been misled

oh ooooh…
oh your god!
who looks…
… over my shoulder?

aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh……..!

it's in everything true
hell it's in me and you
for a second or two
you believe

it don't come from above
this concentration and love
you gotta believe it
to see it

oh your god
who looks over my shoulder

maravilhas da blogosfera

manuela ferreira leite designada como "esse curioso achado da egiptologia cavaquista"

sábado, julho 12, 2008

o ano de 1993

o ano de 1993 deve ser dos objectos literários mais peculiares de josé saramago. uma distopia onírica em forma de longo poema dividido em 30 partes, cada uma funcionando como uma entidade. no futuro, uma guerra, invasores, cidades conquistadas, populações dizimadas. os poucos que sobrevivem tomam dois caminhos: uns ficam prisioneiros nas cidades, outros fogem e agrupam-se em tribos que sobrevivem, em regressão civilizacional, num mundo hostíl onde são perseguidos por animais biomecânicos. é fácil estabelecer um paralelo com o 1984 de george orwell. um futuro próximo, sociedades totalitárias, os homens prisioneiros nas cidades. mas enquanto orwell centra a sua história em personagens bem individualizadas, saramago refere-se ao colectivo, sem nomear os intervenientes. enquanto orwell descreve, saramago sonha em discurso fluído discorrendo sobre a natureza humana. um excerto:


"E porque os antigos deuses haviam morrido por inúteis os homens descobriram outros que sempre tinham existido encobertos pela sua não necessidade

O primeiro de todos foi a montanha porque era ela que no seu mais alto pico sustentava o peso do céu

Aquele mesmo céu que os velhos deuses em tempos idos habitaram e donde de pais para filhos desprezaram os homens porque desprezo fora impor-lhes salvações contra a sua própria humanidade

O segundo deus foi o sol porque ensinara a redescobrir a roda embora houvesse tribos que veneravam a lua pela mesma razão

Essas porém em noites de quarto minguante ou crescente traziam os olhos baixos

Provando assim que cada tribo tem o deus que perfere e não outros

Mas a nova mitologia a isto se resumiu porque um dia houve um homem que subiu ao pico da montanha e por essa maneira se viu que sozinho levantara o céu

E outro pegou nas rodas que haviam sido o sol e a lua e lançou-as para longe onde não brilharam

Definitivamente deus só ficou o rio porque os homens vão mergulhar nele as mãos e o rosto e têm estrelas nos olhos quando se levantam

Enquanto as águas por sua vez transportam ao céu e ao sol se o há a turvidão salgada das lágrimas e do suor

E as plantas verdes que dentro de água vivem estremecem sob o vento que traz aquele cheiro de homem a que a terra ainda não se habituou"


mais um excerto:


"Quando os habitantes das cidades se tinham já habituado ao domínio do ocupante

Determinou o ordenador que todos fossem numerados na testa como no braço se fizera cinquenta anos antes em Aushwitz e noutros lugares

A operação era indolor e por isso mesmo não houve qualquer resistência nem sequer protestos

O próprio vocabulário sofrera transformações e haviam sido esquecidas as palavras que exprimiam a indignação e a cólera

Deste modo os habitantes da cidade se acharam numerados de 1 a 57 229 porque a cidade era pequena e fora escolhida para experimentação entre todas as cidades ocupadas

Dois meses depois o ordenador registava valores de comportamento e diferentes estados de espírito consoante o número que havia cabido a cada habitante

Entre o 1 e o 1000 estava o perfeito contentamento de si próprio ainda assim dividido em mil exactas pequenas parcelas

Ninguém reconhecia autoridade a quem tivesse número superior ao seu o que explica que o 57229 comesse com os cães e tivesse de masturbar-se porque nenhuma mulher queria dormir com ele

Os habitantes de 1 a 9 consideravam-se chefes da cidade e vestiam segundo as modas do ocupante

Mas o primeiro deles mandou fazer um aro de ouro que suspendia sobre a testa como sinal de poder e autoridade e hoje basta este sinal para que todas as cabeças se curvem a partir de 2

Porém só o ordenador sabe que estes números são provisórios e que dentro de vinte e quatro horas todos se apagarão para reaparecerem por ordem inversa

Processo tão bom como os animais mecânicos para prosseguir o extermínio da população ocupada

Pois todas as humilhações serão retribuídas cem por um até à morte

Enquanto os ocupantes se distraem nos espectáculos que para seu uso ainda funcionam"

da vida das árvores #17

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fotografia de nélio filipe

sexta-feira, julho 11, 2008

ausência

... não há falta na ausência.
a ausência é um estar em mim.
e sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços, que rio
e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

carlos drummond de andrade