quinta-feira, dezembro 14, 2006

viol3ncia


hoje o meu filho mais velho foi ao funeral de um amigo. chegou a casa com um outro amigo, ambos tristes, vinham de um momento difícil. estão revoltados. eles e mais uma série de jovens desta cidade. o amigo morto foi vítima de violência, apenas por responder às provocações "masculinas" de outros jovens sensivelmente da mesma idade, numa noite que era suposta ser de divertimento. um murro no sobrolho, uma lesão interna que foi babando durante dois dias até o cérebro ficar afogado em sangue. mais um caso entre os vários que já ouvi relatados pelo meu filho e alguns em que ele próprio se envolveu. só que o desfecho deste foi bem mais trágico. não vou aqui recordar a cidade calma, pacata, segura em que cresci. pergunto-me de onde vem esta necessidade de violência. como sempre, posso estar errado, mas esta nova geração de rapazes, que chega agora à idade adulta, comporta-se de uma maneira muito mais violenta do que a dos pais que os criaram e educaram. foram expostos a doses maciças de violência enquanto cresciam com desenhos animados violentos, filmes violentos e jogos de consola igualmente violentos. e muitas vezes sem o acompanhamento necessário e equilibrante de quem tinha a responsabilidade de os formar mas andava demasiado ocupado com a carreira, a miragem do dinheiro, a encher a casa de aparelhos da última geração e a exibir aos vizinhos carros e telemóveis. ou simplesmente a sobreviver. relegámos para a escola o dever de os educar, de os formar moralmente, e compensámo-los da nossa distracção com brinquedos caros de todo o tipo. demos-lhes um mundo cheio de matérias mas vazio de conceitos. a ao defendê-los de tudo e de todos, dos professores que os queriam disciplinar, dos vizinhos que lhes chamavam à atenção, demos-lhes a ilusão da impunidade. ninguém lhes ensinou o que é que significa realmente ser homem.

8 comentários:

Moisés Gaudêncio disse...

Será que, em geral, a nossa geração falhou como educadora?
Estamos a fazer pior que os nossos pais?

nelio disse...

acho que podiamos ficar a discutir isso durante horas... não se pode apontar o dedo acusador. houve uma série de factores que contribuíram para isso. mudanças sociais, políticas e tecnológicas muito rápidas, a ilusão do desenvolvimento com os dinheiros da então c.e.e., armas de formatação social e de incitação ao consumo muito mais poderosas do que aquelas que nos influenciaram. digamos que o mundo onde os nossos filhos cresceram é suficientemente diferente daquele onde nós crescemos para não termos tido a capacidade de antevermos os efeitos que certos fenómenos teriam sobre a nova geração em formação. houve também alguns conceitos "educacionais" que falharam, na minha modesta opinião, como a educação pelos afectos nas escolas e esse grande equívoco do pai-melhor-amigo. couberam-nos, como a todos os homens, estranhos tempos em que viver (citando alguém que não me recordo agora)

Moisés Gaudêncio disse...

Como observador (nem pai, nem professor) concordo com muito que disseste... acho também que é melhor deixar a avaliação final para daqui a 10-20 anos... e fico curioso para saber quais serão os paradigmas educativos dos "nossos" filhos.

Anónimo disse...

o que é que queres dizer com "educação pelos afectos nas escolas"?

nelio disse...

ultimamente nas escolas, para cativar os meninos para o processo ensino-aprendizagem, a pedagogia pelos afectos é o que está a dar. o professor deixou de ser autoridade e passou a ser distribuidor de afectos, para os meninos se sentirem bem, fofinhos e quentinhos. de outro modo, não participam. vejo isso pelos meus filhos que estão sempre a protestar quando um professor é mais distante e exigente...

nelio disse...

moises: não tenho dúvidas que eles conseguirão encontrar as suas maneiras de fazer as coisas. afinal um dia, isto será deles. e terão também que educar os nossos netos... :o)

Anónimo disse...

ah, mas autoridade e afecto não são incompatíveis. E afecto gera afecto, violência gera violência. Eu sou absolutamente pelo afecto em todas as ocasiões da vida e quem me dera a mim que os professores ensinassem afecto através de afecto. E que os pais ensinassem afecto. Afecto não tem nada a ver com o deixar fazer tudo, isso é desinteresse

nelio disse...

pois concordo plenamente contigo. quem me dera que não houvesse quase que uma inibição social na manifestação do afecto. ao que eu me refiro é a um facilitar das coisas aos meninos. os prefessores têm que cativar os meninosm que têm uma postura basicamente passiva. e depois se as coisas correrem mal, a culpa, aos olhos dos pais, é sempre dos profs. right?