terça-feira, fevereiro 13, 2007

não s3ja, par3ça!

ser ou parecer? vivemos num ambiente social em que parecer é muito mais importante do que ser. parecer rico, parecer jovem, parecer culto, parecer intelectual, parecer cool, parecer dread, conforme os microcosmos sociais em que circulamos. ser é incómodo, obriga a opções reais, a reflexões interiores, à introspecção e ao auto conhecimento, e tudo isso dá imenso trabalho. compre um carro topo de gama, um ecran de plasma, um telemóvel 6ª geração, os últimos devices da tecnologia, poupe no bife, que ninguém vê aquilo que come, recorra a crédito sobre crédito. repuxe a face, aspire as gorduras, encha os lábios, injecte butox, implante cabelos ou aniquile-os a laser conforme a localização. finja que viu o filme que não viu, que leu o livro que não leu, saiba 3 ou 4 citações de cor sem saber quem as proferiu ou em que contexto. impressione os seus vizinhos, faça inveja aos seus colegas de trabalho, publique no seu blog frases complexas mesmo que não as compreenda, nunca cite autores conhecidos do grande público, diga que não gosta daquilo que gosta se os seus interlocutores não gostarem, ouça só a música que os outros ouvem, compre sempre roupa e apetrechos de marca, componha o cabelo milimetricamente ao gosto dos seus colegas. e sobretudo, não tenha veleidades de ser, porque além do esforço interior a que obriga, não lhe traz nenhum benefício. bem vindo ao século 21.

3 comentários:

Maria Romeiras disse...

Mundo politicamente correcto em que alinhamos. E não vale a pena ser recursivo, todos acabamos por alinhar. Será isto a aldeia global? Perder a identidade e a personalidade? Ou como diz a Mafaldinha do Quino fazer parte do rebanho que não alinha com a carneirada? Bem observado.

nelio disse...

podemos ter a pretensão da originalidade, mas encaixamos em tipos. tipo de gostos, tipo de cultura, tipo de opções, tipo de estéticas, tipo de reacções emocionais. por outro lado a variedade e complexidade do funcionamento humano é tal que acaba por não haver ninguém exactamente igual a nós. o que importa, imho, é sermos capazes de olhar para dentro e tentar descobrir quem somos, do que é que gostamos, o que é que nos atormenta. ficarmos frente a frentem com nós mesmos, ou preferencialmente olharmo-nos de fora, ou talvez ainda ambas as perspectivas. sermos autêncticos, cumprirmo-nos como se cumpre o leão ou o urso. este post é sobre aqueles que se mascaram de cinzento quando a paisagem é cinzenta e de vermelho quando a paisagem é vermelha. e também sobre aqueles que sentem necessidade de dizer "o meu cinzento é mais cinzento do que o vosso" para mim o mundo só faz sentido se for multicolor.

Anónimo disse...

.....la veritá morí fanciulla.....ciao...m