quarta-feira, junho 20, 2007

entre o alvo e a seta

aquele era o tempo em que as mãos se fechavam e, nas noites brilhantes, as palavras voavam. e eu via que o céu me nascia nos dedos, e a ursa maior eram ferros acesos, marinheiros perdidos em portos distantes, em bares escondidos, em sonhos gigantes, e a cidade vazia da cor do asfalto, e alguém me pedia que cantasse mais alto. aquele era o tempo em que as sombras se abriam, em que homens negavam o que outros erguiam, e eu bebia da vida em goles pequenos, tropeçava no riso, abraçava venenos. de costas voltadas não se vê o futuro, nem o rumo da bala, nem a falha no muro, e alguém me gritava, com voz de profeta, que o caminho se faz entre o alvo e a seta. de que serve ter o mapa se o fim está traçado? de que serve a terra à vista se o barco está parado? de que serve ter a chave se a porta está aberta? de que servem as palavras se a casa está deserta?
quem me leva os meus fantasmas, quem me salva desta espada, quem me diz onde é a estrada?


longe vão os tempos de fascínio pelo p. abrunhosa, quando "viagens" surgiu como pedrada no charco no panorama musical. actualmente, musicalmente não lhe acho grande interesse, mas hoje, esta letra, poema, como lhe quiserem chamar, tem muito a ver com o meu estado de espírito.

5 comentários:

Anónimo disse...

Caminante no hay camino,
se hace camino al andar,
al andar se hace camino y
al volver la vista atrás,
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar,
caminante no hay camino sino estelas en la mar.

Joan Manuel Serrat

eskisito disse...

Não consigo perceber o encanto...sou-te sincero. Tal como tu participei na primeira vaga, mas agora, não consigo mesmo ouvir.

marta r disse...

Nunca lhe achei muito graça mas tenho que admitir que ele melhorou com a idade.

Este poema parece-me francamente melhor do que a maior parte dos que constam no "Viagens".

Anónimo disse...

O pior deste texto é que nos arriscamos a ouvi-lo entoado daquela forma enfática pelo P.A. A primeira vez que o ouvi pensei que fosse algum comediante a fazer troça. So depois tomei atenção às palavras. São realmente bonitas. Não somos bons em tudo. PA tem isto de bom. Contudo prefiro não o ouvir.

Anónimo disse...

a escrita das palavras pode ter melhorado, mas a escrita musical caiu a pique.