born, never asked
big science, o primeiro registo musical gravado por laurie anderson, editado há 25 anos, é agora alvo de reedição comemorativa, melhorada, como não podia deixar de ser. é difícil falar de laurie, tal a sua dimensão criativa. nunca quis ser uma artista mainstream, big science não foi um álbum planeado como tal e nunca quis fazer carreira musical. artista multifacetada, inconformada, com um olhar crítico sobre a sociedade e um humor muito próprio, laurie afirmou-se nos primeiros tempos como performer. criava espectáculos globais, em que a música era apenas mais um dos elementos. por insistência de algumas pessoas próximas gravou uma das músicas (o superman) que utilizava na sua performance "united states live". uma edição de 1000 exemplares foi posta à venda apenas por correio, não nos esqueçamos que estamos a falar na era pré-internet. quis a sorte que alguns desses exemplares atravessassem o atlântico e um deles fosse ter às mãos de john peel, então um dos radialistas mais influentes no reino unido, que o integrou na sua playlist. perante o êxito daquela música estranha e repetitiva, a edição de 1000 cópias esgotou rapidamente e os pedidos não paravam de chegar. daí à gravação do disco foi um passo. big science viu assim a luz em 1982. um disco intemporal, construído com instrumentos pouco convencionais e com "canções" que nada tinham de banal. a novidade e estranheza do som determinaram o sucesso. entre as músicas de big science figurava este "born, never asked", aqui reproduzida como banda sonora de um vídeo amador. na altura da edição portuguesa estava eu em lisboa, estudante universitário e a fazer um curso amador de iniciação ao teatro com o hoje incontornável actor joão grosso. para exercício final do curso, montamos um pequeno espectáculo baseado em dois contos, um de katherine mansfield e outro de ray bradbury, que se alternavam e se interligavam no final. a temática era o desejo. a garrafa azul, assim se chamava o espectáculo, foi à cena numa pequena sala de um edifício antigo ali para os lados do largo do rato, instalações cedidas por um sindicato qualquer. born, never asked era a primeira música de cena, começava a tocar com as luzes em blackout, o "what is behind that curtain" era perfeito para o início do espectáculo. ainda hoje, ao ouvir os primeiros acordes, revivo a sensação de ansiedade à medida que a música se desenrolava e o momento de começar a representar se aproximava. foi a minha primeira experiência de palco. talvez por isso, laurie anderson ocupou sempre um lugar especial no meu olimpo pessoal. segui sempre a sua carreira atentamente, assisti a todos os espectáculos que me foi possível. passou no fim de semana passado por cá outra vez com o seu mais recente espectáculo "homeland" e foi com grande pena que não me foi possível delocar-me a lisboa para a ver. se procurarem bem no youtube, encontram filmagens piratas do espectáculo no teatro circo de braga. intemporal, big science tem 25 anos, mas bem que podia ter 25 dias, como li algures nessa blogosfera.
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