quarta-feira, dezembro 12, 2007

somos uma espécie admirável

sempre vivi este dilema entre o encanto e o desencanto com o bicho-homem, a sua essência, o seu ser biológico, capaz do melhor e do pior. acabámos por criar complexas redes de organização em grupo, tribos que se entrelaçam com outras tribos, que partilham o habitat embora não partilhem muitos dos comportamentos. uma verdadeira inovação biológica. tão complexa é a nossa organização em grupos, e tão interdependente, que os grandes agrupamentos humanos contêm verdadeiras tensões em relação ao rumo do todo e ao (des)equilíbrio de forças entre tendências opostas ou transversais. o sistema, no fundo, somos nós todos, ninguém o controla, ninguém o define. segue o percurso resultante da soma de todos os vectores individuais. pode parecer estranho, mas isto vem a propósito do natal. ou melhor será dizer: isto vem também a propósito do natal. o mesmo encanto e o mesmo desencanto que referi acima. talvez poucos pensem nisso, mas esta é uma época de verdade, com inspiração nos sentimentos mais nobres e mais elevados de que somos capazes enquanto espécie. jesus, o homem que realmente existiu, que nasceu mais coisa menos coisa há pouco mais de dois mil anos, era um homem bom, justo, verdadeiro, conhecedor da nossa essência. sabia que para continuarmos a viver em grupo temos que domar o predador que há em nós. e nós somos uma espécie auto-predatória, uma das únicas de que há registo. jesus, dizia eu, passou à história como símbolo dos sentimentos mais puros e mais nobres de que somos capazes. e das acções também. é isto que deviamos estar a celebrar agora. o nosso lado mais luminoso, a inspiração que faz com que persigamos ideais de justeza, de solidariedade, de futuro partilhado. hoje não me vou queixar de todos os absurdos da realidade e não vou dizer o que está mal nesta maneira que engendrámos para festejar o natal. nem vou protestar contra os contornos quase pornográficos do apelo ao consumo desenfreado. quero continuar a sentir a magia infantil que olha para as luzes espalhadas pelas ruas das cidades com fascínio absoluto. somos, realmente, uma espécie admirável.

2 comentários:

Cometa 2000 disse...

uma reflexão iluminada. bem-hajas!

nelio disse...

cometa, gostei de ler o teu comentário. obrigado.