terça-feira, dezembro 12, 2006

p3na d3 mort3 (a propósito de s. huss3in)

esta notícia coloca-me novamente perante o dil3ma moral r3corr3nt3 da pena de morte. sei bem que não faltarão vozes ocidentalmente democráticas a defenderem o enforcamento de saddam e seus pares, qual multidão em transe nas bancadas das arenas romanas, eu próprio dificilmente resisto a essa tentação primária. sou intrinsecamente contra a pena de morte num estado de direito, pelo respeito essencial pela vida e pela possibilidade de erros de justiça. mas neste caso, afinal o homem foi um tirano, usou e abusou de todos os seus poderes, foi implacável com quem se lhe opôs, genocídios e outras enormidades fazem parte do seu curriculum. no entanto, esta condenação à morte, ainda por cima por enforcamento (se é que a técnica de execução tem alguma importância), tem um cheiro a barbárie, a vingança, a olho-por-olho-dente-por-dente, que acaba por colocar os condenadores (quase) em pé de igualdade com os condenados. não cheira muito a justiça. interiormente, no dilema, acaba por vencer o "sou contra".

6 comentários:

marta r disse...

Eu cheguei exactamente à mesma conclusão. Apesar de achar que o mundo seria melhor sem essa criatura...

nelio disse...

... se fosse só essa, marta, se fosse só essa...

Anónimo disse...

pois é, quando falaste do pinochet eu pensei cá para comigo: provavelmente haverá algumas pessoas que sentirão a falta dele. Devem ser poucas, concordo, mas há-se haver algumas... Isto é tudo tão relativo na vida...
Pena de morte também não consigo concordar. Embora eu ponha a questão, provavelmente como toda a gente, de se acontecesse alguém fazer muito mal (torturar, matar, violar) a uma das minhas filhas, se eu continuaria a discordar da pena de morte... Não sei...
De qualquer maneira o hussein não é muito pior provavelmente do que muitos que são aplaudidos neste mundo, por isso...

(olha lá, e tu trabalhas? é que ele é posts a toda a hora...:))

Anónimo disse...

acabei de perceber que há um blog chamado idadedapedra! Brazuca! Não deu tempo para ver o conteúdo porque estou a trabalhar, hehehe

Moisés Gaudêncio disse...

Temos que ver o contexto político da condenação... a sociedade iraquiana não se rege pelos mesmos valores que as sociedades ocidentais... depois o valor da vida humana é muito diferente de cultura para cultura e é influênciado muitas vezes pelas circunstâncias sócio-politicas...

Isto leva-me a algumas interrogações clássicas: será que os nossos conceitos sobre a vida humana são melhores ou mais justos? e os das outras sociedades errados e brutais? serão esses conceitos valores absolutos? será que a sociedade ocidental é a detentora do monopólio desses valores nela baseando uma certa sobranceria moral, versão «soft» da superioridade rácica?

nelio disse...

moisés: não consigo ver essa dicotomia assin tão evidente. é lógico que a nossa cultura é apenas mais uma, e no seio dela também há pena de morte e também há quem defenda castigos brutais. acho que tem mais a ver com o conceito de liderança e com o encarar a pessoa como peça da comunidade e não como uma individualidade com direito a escolhas próprias. os valores humanistas também estão presentes na maior parte das sociedades.

mas a questão que se me põe aqui é outra. até que ponto é que o que diferencia condenados e conndenadores não é apenas a posição política do momento. ontem condenador, hoje saddam é condenado. mas os métodos em si não diferem muito.

idadedapedra: trabalho sim. o que é que tu julgas que eu faço no intervalo entre os posts? isto é o resultado de um dia a prepara uma formação para ministrar no dia seguinte