p3na d3 mort3 (a propósito de s. huss3in)
esta notícia coloca-me novamente perante o dil3ma moral r3corr3nt3 da pena de morte. sei bem que não faltarão vozes ocidentalmente democráticas a defenderem o enforcamento de saddam e seus pares, qual multidão em transe nas bancadas das arenas romanas, eu próprio dificilmente resisto a essa tentação primária. sou intrinsecamente contra a pena de morte num estado de direito, pelo respeito essencial pela vida e pela possibilidade de erros de justiça. mas neste caso, afinal o homem foi um tirano, usou e abusou de todos os seus poderes, foi implacável com quem se lhe opôs, genocídios e outras enormidades fazem parte do seu curriculum. no entanto, esta condenação à morte, ainda por cima por enforcamento (se é que a técnica de execução tem alguma importância), tem um cheiro a barbárie, a vingança, a olho-por-olho-dente-por-dente, que acaba por colocar os condenadores (quase) em pé de igualdade com os condenados. não cheira muito a justiça. interiormente, no dilema, acaba por vencer o "sou contra".
6 comentários:
Eu cheguei exactamente à mesma conclusão. Apesar de achar que o mundo seria melhor sem essa criatura...
... se fosse só essa, marta, se fosse só essa...
pois é, quando falaste do pinochet eu pensei cá para comigo: provavelmente haverá algumas pessoas que sentirão a falta dele. Devem ser poucas, concordo, mas há-se haver algumas... Isto é tudo tão relativo na vida...
Pena de morte também não consigo concordar. Embora eu ponha a questão, provavelmente como toda a gente, de se acontecesse alguém fazer muito mal (torturar, matar, violar) a uma das minhas filhas, se eu continuaria a discordar da pena de morte... Não sei...
De qualquer maneira o hussein não é muito pior provavelmente do que muitos que são aplaudidos neste mundo, por isso...
(olha lá, e tu trabalhas? é que ele é posts a toda a hora...:))
acabei de perceber que há um blog chamado idadedapedra! Brazuca! Não deu tempo para ver o conteúdo porque estou a trabalhar, hehehe
Temos que ver o contexto político da condenação... a sociedade iraquiana não se rege pelos mesmos valores que as sociedades ocidentais... depois o valor da vida humana é muito diferente de cultura para cultura e é influênciado muitas vezes pelas circunstâncias sócio-politicas...
Isto leva-me a algumas interrogações clássicas: será que os nossos conceitos sobre a vida humana são melhores ou mais justos? e os das outras sociedades errados e brutais? serão esses conceitos valores absolutos? será que a sociedade ocidental é a detentora do monopólio desses valores nela baseando uma certa sobranceria moral, versão «soft» da superioridade rácica?
moisés: não consigo ver essa dicotomia assin tão evidente. é lógico que a nossa cultura é apenas mais uma, e no seio dela também há pena de morte e também há quem defenda castigos brutais. acho que tem mais a ver com o conceito de liderança e com o encarar a pessoa como peça da comunidade e não como uma individualidade com direito a escolhas próprias. os valores humanistas também estão presentes na maior parte das sociedades.
mas a questão que se me põe aqui é outra. até que ponto é que o que diferencia condenados e conndenadores não é apenas a posição política do momento. ontem condenador, hoje saddam é condenado. mas os métodos em si não diferem muito.
idadedapedra: trabalho sim. o que é que tu julgas que eu faço no intervalo entre os posts? isto é o resultado de um dia a prepara uma formação para ministrar no dia seguinte
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