quarta-feira, janeiro 03, 2007

da pornografia das imag3ns 2

no post anterior evitei fazer mais considerações sobre imagens e iconografias, mas parece que se impõem considerações acessórias. questões levantadas em comentário. as imagens são realmente fundamentais na nossa sociedade, são uma forma de comunicação poderosa. de maneira nenhuma pretendo fazer um manifesto anti-imagens. também é verdade que usando do livre arbítrio, cabe a cada um selecionar aquilo que lhe entra pelos olhos adentro. o que está em questão não são as imagens em geral, mas alguns tipos de imagens e a maneira como elas são tratadas e os fins (mais ou menos obscuros) que essa exposição serve.

é verdade que temos a opção de não ver aquilo que não queremos ver. pessoalmente, não vi o vídeo de saddam hussein que motivou o post. não quis ver, não quero ver. mas isto aplica-se a uma margem pequena da população, que me atrevo a chamar de esclarecida. a turba anónima, que devora floribellas e pequenos escândalos, muitas vezes não tem o poder discriminatório para o fazer. ou não o quer utilizar. polémico, eu sei, mas é isto que penso.

as imagens a que me refiro são difundidas, a maior parte das vezes, como suporte da informação. palavra dúbia esta, pois o prefixo in normalmente é um prefixo de negação. a raiz etimológica aqui é obviamente outra, pois informação não é antónimo de formação. as imagens da informação, então, deverão ser imagens que acrescentem algo, que elucidem, que completem a notícia verbal. não deveriam os orgãos de comunicação ponderar o que difundem? a exposição de um homem a caminho da morte serve realmente a informação? os videos semipornográficos que "ilustraram" os primeiros tempos do processo casa pia acrescentaram alguma coisa à informação? tenho muitas dúvidas. e voltamos à questão da selecção. que poder de selecção temos, quando estamos a assistir a um serviço noticioso? a imagem é posta no ar e, quando damos por isso, já ela nos entrou pelos olhos adentro.

em causa está também a dessensibilização da população em geral a certo tipo de imagens. as primeiras imagens de guerra registadas tinham um impacto enorme, pois colocavam o cidadão comum perante a realidade nua e crua. sensibilizaram para os horrores da guerra e tiveram um papel crucial na consciência anti-belicista. esta foto tornou-se um ícone da guerra do vietname, porque punha a nú o horror e o sofrimento. hoje em dia, seria apenas mais uma imagem, no meio de tantas, bem mais chocantes, a que nos habituámos a ver nos serviços de informação.

estão a ver onde é que eu quero chegar?

4 comentários:

Anónimo disse...

Na minha humilde opinião as imagens na informação servem também para caucionar a mensagem verbal ou escrita perante o espectador/leitor, dando-lhe a sensação que o que é dito está próximo da realidade, teóricamente claro.
Ora dai à sua manipulação vai um passo, e não sejamos ingénuos, só num mundo ideal os detentores do poder, e não só, como foi o caso da imagem que mencionas, não usam esse instrumento de forma mais ou menos descarada para controlar os cidadãos espectadores. Vai estrear um filme que aborda essas questões da utilização das imagens, Flags of our fathers (acho eu) do Clint Eastwood, sobre a celebre foto da bandeira americana em Iwojima. A ver.

Ufa!

Anónimo disse...

Ah! A nossa defesa é o sentido critico... que começa a desenvolver-se onde? a ser estimulado por quem? Pois...

nelio disse...

boa questão essa!

Maria Romeiras disse...

a questão da banalização, da norma, da aceitação do que vemos e identificamos como padrão; manter o espírito em padrões analíticos suficientes para filtrar nem sempre é fácil; a mediatização é uma invasão de identidades terrível se para tal for usada; boa discusssão lançada para a rede...