quarta-feira, maio 09, 2007

constatação #15

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o poder é a posse das faculdades ou dos meios necessários para fazer os outros homens contribuirem para as nossas próprias vontades. o poder legítimo é aquele que determina os outros a se prestarem aos nossos objectivos pela ideia da sua própria felicidade: esse poder não passa de uma violência quando, sem nenhuma vantagem para o próprio, ou mesmo para seu prejuízo, obriga a que se submeta à vontade dos outros.

paul henri d'holbach, filósofo francês, 1723-1789

9 comentários:

Maria Romeiras disse...

Vulgo: prepotência. Pois. Não há-de murchar a desgraçada da flor da Mafaldinha... Não consigo vir aqui sem pensar que este É um blog de grande qualidade. Um abraço e obrigado por fazeres as gentes virtuais pensarem nas coisas certas.

Anónimo disse...

maria, não sabia que eras virtual... :) o que mais me atraiu nesta citação é esta parte: o poder legítimo é aquele que determina os outros a se prestarem aos nossos objectivos pela ideia da sua própria felicidade, ou seja, para conseguir o poder legítimo tem que haver manipulação, de modo a convecer os outros. isto põe em causa a própria natureza da democracia. nem sempre vence o mais capaz, mas sim aquele que melhor convencer os eleitores de que vai contribuir para o bem estar e a felicidade de todos. por isso a política actual joga mão de todas as ferramentas de manipulação de massas. vendem-se políticos como se vendem shampoos, as técnicas são (quase) as mesmas...

Moisés Gaudêncio disse...

Nélio, a natureza da democracia é precisamente essa. Podem ganhar, não os melhores (como é que isso se avalia? carácter pessoal? preparação? nascimento? riqueza?)mas os que conseguem congregar a maioria dos cidadãos à volta das suas propostas. O que chamas «manipulação» é inevitável e foi sempre uma preocupação nas várias experiências democráticas desde Atenas. Não serão o debate e o espírito critico que a democracia permite a melhor defesa contra essas manobras?
Desconfio sempre dos «melhores»...
Acho que o problema não está em politicos melhores mas em melhores cidadãos. É o tal nó cego...

Anónimo disse...

moises eu sei que a democracia é o melhor sistema que se pode conceber para gerir a vida colectiva, mas dá um certo gozo reflectir sobre e expor as suas vicissitudes... muita gente vota nos candidatos acreditando piamente e sendo incapaz de filtrar e identificar os tais instrumentos de manipulação.

Anónimo disse...

a mim o que me lixa muitas vezes é que as tais propostas de que falas são elaboradas com base em estudos de mercado, ao gosto dos eleitores, porque o que está na base e o verdadeiro objectivo é o poder pelo poder.

Anónimo disse...

Democracia:
Mas é Democracia participativa ou democracia representativa ?
Imagens, linguagens e outras formas de arrebanhar pessoal atrás de um líder são sintomas do cancro instalado na democracia com o aumento da parcela da REPRESENTATIVA. Por esse câncro morre a democracia PARTICIPATIVA. Esta era aquela das comissões de moradores, das associações de pais, das associações de estudantes, dos conselhos directivos nas escolas e dos trabalhadores reunidos em assembleia decidindo sobre a administração dos meios de produção. (Apetece-nos já por tudo isto em itálico ilustrado em fotos amarelecidas com MFAs guedelhudos daqueles que me ensinavam a cantar quando andava na escola primária).
Toda a reflexão sobre a responsabilidade e a moral colectiva vem passar por aqui: até que ponto têm as formigas vontade ou possibilidade de gerir a direcção do seu carreiro de forma participada e não apenas delegando essa função num eleito? Porque são os portugueses tão pouco voluntariosos para se associarem de mangas arregaçadas e porem a mão na massa da República? Já viram os poucos cromos que aparecem nas reuniões de discussão pública de projectos autárquicos? Já viram o estado em que estão as associações de pais? Já viram que nem um condomínio conseguimos por a funcionar sem contratarmos uma empresa para o fazer por nós?
Não me convém nada discutir moral: tenho demasiados telhados de vidro. Mas não podiamos passar à acção directa sobre as coisas à nossa volta após termos acordado numa moral básica em que todos estamos de acordo? Por exemplo regras como Não levaremos connosco o que não é (só) nosso, Não nos faremos de imbecis ao fazer de conta que não entendemos óbvio, Não deixaremos o nosso trabalho para os outros e Darmos primeiro atenção àquilo que temos em comum com os outros e Só depois, e se houver tempo, ao que nos separa.
A democracia participativa não precisa de poder. Pode precisar de lideres com carisma mas reparem no que sucedeu sempre que esses líderes foram eleitos e ungidos chefes.
Por outro lado somos primatas gregários e adoramos seguir um chefe que nos volte as costas. Ser livre dá cá uma trabalheira...

nelio disse...

maria da piedade:

i'm speechless. puseste o dedo em várias feridas. há mil e um factores, foram os anos do estado novo, paternalista e castigador, foram os abusos e as ilusões do pós 25 de abril. nessa altura muita gente acreditou e depois bateu com o nariz no chão. em muitas coisas, essa gestão colectiva foi desastrosa, ninguém estava preparado, e houve uma corja de chicos-espertos que se mascarou de democrata participativo para sacar o máximo para si próprio, outra forma de exercer o poder. no rescaldo disso, vieram as massinhas da c.e.e. e muitos daqueles que tinham batido com o nariz no chão virou-se para o bem estar económico e deixou-se adormecer agarrado aos brinquedos para adultos que a tecnologia foi acrescentando ao nosso dia-a-dia. realmente, nem sequer temos a noção de propriedade colectiva, as ruas dos nossos bairros não são nossas, nem sequer as escadas dos nossos prédios. temos umbigos enormes. às vezes convenço-me que somos uma sociedade de saloios novos-ricos, mas não quero acreditar nisso.

Daniel C. disse...

Muito bom!
Isto é mas é uma excelente súmula do exercício do poder democrático pela mão de um Marketeer!
Mas afinal a felicidade não vem em pequenos frascos como o perfume? Eu quando voto tenho sempre ideia que sim...

Abraço

nelio disse...

daniel, aqui no algarve servem-na embrulhada em pratinhas, como os dom rodrigos... :)