you just don't understand
homens e mulheres comunicam de maneira diferente, e usam a comunicação com objectivos diferentes? deborah tannen acha que sim e expõe as suas ideias no livro "you just don't understand", editado em portugal com o título "não nos estamos a entender". centrado na ideia de que, ao comunicar, muitas mulheres se centram mais na meta-mensagem da conexão e muitos homens se preocupam mais com a independência e o estatuto (não querendo isto dizer que os homens não se preocupam com a conexão ou que as mulheres não se preocupam com a independência e o estatuto), a autora discorre ao longo de páginas recheadas de exemplos que todos nós reconhecemos. uma análise polémica, dirão alguns, mas com um fundo de verdade. deborah tannen diz que tudo começa na infância, quando meninos e meninas tendem a brincar em grupos do mesmo sexo. nas brincadeiras dos meninos há regras, que frequentemente são modificadas, há líderes, há disputa de estatuto, há vencedores e perdedores. nas das meninas, há mais vezes igualdade de estatuto e frequentemente não há vencedores, todas têm a sua vez, como quando saltam à corda ou quando brincam às casinhas. estas diferenças acompanham depois homens e mulheres pela vida fora, dificultando a comunicação entre os dois sexos, que a autora considera como comunicação intercultural. o não entendimento destas diferenças de estilo e de objectivos é frequente fonte de frustração e de mal entendidos. compreeder o "outro lado", será assim meio caminho andado para que a comunicação seja mais eficaz. a história clássica do casal que segue pela auto-estrada e a mulher pergunta: não queres parar para tomar um café? e o marido responde: não, e continua em frente, é um exemplo. para ele, se ela queria parar, deveria tê-lo dito, para ela, ele deveria ter percebido que ela queria parar.
deborah tannen analisa também a maior tendência dos homens para intervirem no discurso público e das mulheres para intervirem no discurso privado. as queixas frequentes de muitas mulheres de que "ele não fala comigo, mas quando estamos com amigos ele é o centro das atenções", pode ser explicado através da dualidade conexão/estatuto. da análise de deborah tannen, ninguém sai vencedor, nenhum estilo é mais valorizado, o objectivo é reflectir e contribuir para a compreensão do "outro estilo". para exemplificar, alguns excertos:
"ela diz-lhe o que está a pensar e ele ouve-a em silêncio. ela pergunta-lhe o que ele está a pensar e ele demora tempo a responder: não sei. frustrada ela desafia: não tens nada no espírito? para rebecca, que está acostumada a expressar os seus pensamentos e opiniões à medida que lhe chegam, nada dizer, significa nada pensar. mas stuart não considera que os pensamentos que lhe passam pela cabeça sejam coisa importante de dizer. não tem o hábito de falar sobre as suas ruminações mentais, por isso, enquanto rebecca fala naturalmente dos seus pensamentos, ele naturalmente descarta os seus à medida que lhe ocorrem. falar deles dar-lhes-ia mais peso e significado do que ele acha que merecem. toda a vida ela verbalizou os seus pensamentos e sentimentos em conversas privadas com pessoas que lhe são próximas; toda a vida ele descartou os seus pensamentos e os manteve para si próprio."
"achamos que sabemos como é o mundo, e olhamos para os outros para reforçarmos essa convicção. quando vemos os outros agirem e pensarem como se o mundo fosse um lugar completamente diferente do que nós habitamos, ficamos abalados. olhamos para as nossas relações mais próximas como fontes de confirmação e sossego. quando os mais próximos de nós reagem aos acontecimentos de forma diferente da nossa, quando eles parecem ver a mesma cena como parte de uma peça diferente, quando eles dizem coisas que nunca imaginaríamos dizer nas mesmas circunstâncias, o chão que pisamos parece tremer e sentimo-nos subitamente inseguros"
"se os adultos aprendem as suas formas de falar enquanto crianças crescendo em mundos separados, então a conversação entre homens e mulheres é uma comunicação intercultural. apesar de cada estilo ser válido nos seus próprios termos, os mal-entendidos surgem porque os estilos são diferentes. uma aproximação intercultural às conversas masculino-femininas torna possível explicar por que razão as insatisfações se justificam sem acusar ninguém de estar errado ou ser doido. aprender acerca das diferenças de estilo não as faz desaparecer, mas pode eliminar a má interpretação e a culpabilização mútuas."
por mim, estou a achar o livro bastante interessante, e dou por mim a sorrir frequentemente, ao reconhecer episódios que se passam comigo ou que observo ao meu redor. um livro interessante e diferente, óptimo para se ler quando o último livro de ficção que se leu nos deixou uma impressão muito forte, como foi o meu caso com "a sombra do vento".
10 comentários:
"nas das meninas, há mais vezes igualdade de estatuto e frequentemente não há vencedores, todas têm a sua vez, como quando saltam à corda ou quando brincam às casinhas." - discordo completamente desta afirmação; há líderes sim senhor. Lembro-me da minha infância (nunca fui nem serei lider, mas havia líderes que mandavam sempre nas brincadeiras) e vivi a infância das minhas filhas: uma líder outra não
podes endereçar o protesto à dra deborah tannen, linguistics department, georgetown university, washington d.c., united states of america...
de qulquer maneira, não se diz que não há líderes, mas sim que há mais vezes igualdade de estatuto...
o que é que queres dizer com "deu uma impressão muito forte"? Ficou-te marcado, é? É só para saber se me apetece lê-lo ou não (a sombra do vento, o outro não que não acho piada nenhuma a esses livros que generalizam tudo, he he he he)
já fiz um post sobre a sombra do vento. podes lê-lo um pouco mais abaixo, deve ter sido durante o teu recolhimento... ficou-me bem marcado, sim, é um livro fantástico em todos os sentidos. sobre este, deixa-me acrescentar que não generaliza nada, a sra tannen tem extremo cuidado em não generalizar, nunca diz os homens isto, as mulheres aquilo, mas sim, muitas mulheres isto, muitos homens aquilo, o que não quer dizer que não haja homens que isto e mulheres que aquilo...
Nélio: um meme sobre o tema "Paraíso Natural" está à tua espera no meu blog. Fico à espera desse paraíso natural. Boa escrita!!!
O que eu gostava de não me estar a entender apenas com os homens. Ao ler este post compreendi que as mulheres não se me apresentam mais fáceis de entender. Qual estilos de liderança qual o quê! Eu não percebo é o porquê de gostarem sequer de articular aqueles sons à vez, se forem bem educados, ou em simultâneo, se os interlocutores forem traçados de espanhois.
As crianças têm aquela dificuldade adicional do vocabulário limitado e de darem atenção desmedida a coisas como sobrolhos tortos e olhares para o lado.
Os animais têm a desvantagem de deixarem no sofá mais pêlo do que os humanos. Aos cavalos não se aplica essa dificulade do sofá, mas aquele odor corporal não há REXINA que resolva.
Pronto deixei aqui sumariado o essencial da minha teoria da impossibilidade da comunicação num dia de pH baixinho.
felizmente aqui na blogosfera não se consegue comunicar em simultâneo... :)
quero acreditar que os mundos feminino e masculino não são assim tão distantes, ou por outra, que não são como planetas que rasam a trajectória um do outro, sem, no entando, se fundirem.
a aculturação espartilha-nos, molda-nos, às vezes, chega mesmo a aniquilar quem somos. só porque somos homem ou mulher. quero acreditar que, antes de mais, somos gente e, como tal, com a possibilidade de entender o outro muito para além do seu atávico reduto biológico. e assim, ser possível o amor...*
inês, e porque entender o outro é essencial, e esse entendimento se faz através da comunicação, é bom saber das pequenas e subtis diferenças. concordo plenamente que acima de tudo somos gente.
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