segunda-feira, setembro 24, 2007

dona gaivota




dona gaivota olhava atenta os carros que se iam juntando para encher o próximo ferry. um quotidiano repetido desde sempre. todos os dias a mesma viagem, na esteira dos mesmos barcos, os mesmos voos, os mesmos gritos em bando, as mesmas lutas pelos pedaços de pão com que aqueles bichos bípedes presenteavam a sua colónia. já conhecia alguns. alguns rostos, alguns braços, repetiam-se todos os dias. outros estavam de passagem. vinham das suas terras longínquas e a elas regressariam depois. dona gaivota gostava daquele mar entre texel e den helder, da azáfama do porto, das areias brancas da ilha, da brisa fresca e salgada que lhe alisava as penas. fixei-a na memória fotográfica. imagino-a hoje, fiel à sua condição de gaivota, voando naquele espaço que para mim começa a perder os contornos.

foto de nélio filipe, den helder, netherlands, agosto 2007

música: king crimson, song of the gulls

4 comentários:

nelio disse...

este "player do esnips é mesmo feio e grande, mas não consegui encontrar esta música em mais nenhum lado...

Anónimo disse...

estive lá em Agosto de 1990. Fui sozinha,durante três semanas. lembro-me do peso da mochila, da leveza da cabeça e da carteira. Lembro-me dos portos, do Inselmeer (ortografia?) cheio de barquinhos de recreio onde famílias com ar de ilustrações de manuais de educação para a saúde se recreavam, dos parques com pessoas a namorar, a passear crianças, ou sozinhas a ler paperbacks grossos sem que os transeuntes se espantassem, por não haver nisso novidade. Lembro-me das ruas cheias de bicicletas, das livrarias temáticas que repartiam entre si a vasta clientela, da tolerância dos costumes e da eficácia de tudo aquilo.
Custa sempre voltar ao mais africano dos países europeus, quando não se vem de férias, não é? Para piorar, lá no norte usam roupas mais coloridas, têm mais tempo livre, sofrem menos de stress, não precisam de correr seca e meca para encontrar bom pão com fibras ou fruta biológica.
É preciso acreditar que algum designio haverá em ter-se herdado estes genes fadistas e este lugar. Se não, não sei como se aguenta o post vacation blues.
Coragem, amigo. (nem tudo o que é grande é feio: os holandeses são os mais altos da europa, e o meu amigo, se a sifose ainda não o quebrou também não está nada mal)

nelio disse...

qualquer semelhança entre os dois povos é mera coincidência. o mais estranho foi sentir-me mais em casa lá... como aliás das outras vezes que lá fui.
tens razão em relação à ortografia. é ijsselmeer, porque é o mar onde desagua o rio ij.

Anónimo disse...

a ortografia, mesmo em Português, é uma das minhas sérias feeldades. Espero que se salve a sintaxe.
ânimo, amigo