segunda-feira, fevereiro 04, 2008

atmosphere

pois bem, já vi o control do anton corbijn, o biopic sobre ian curtis. a espera foi longa (3 meses, convenhamos, é uma eternidade hoje em dia, principalmente tendo em conta que entretanto estrearam simultâneamente em faro e em lisboa umas quantas dezenas de produções a metro, só porque são de origem norteamericana) e as expectativas foram aumentando à medida que muitos dos blogs que leio se iam desfazendo em elogios desmedidos em relação ao filme. todos os adjectivos que li se confirmaram. soberbo, simplesmente arrebatador. pelo filme, por curtis e pelo seu percurso trágico. pelo preto e branco, que de outra forma não faria sentido ser filmado.

se muitos descobrem agora ian curtis e os joy division, para mim foi uma forma de regressar ao passado e reviver tempos idos em que o negro e os sobretudos até meio da perna eram obrigatórios na indumentária. o fenómeno curtis/joy division apanhou-me no final da adolescência, lisboa, universidade. os primeiros acordes de atmosphere serviam de genérico ao programa que faziamos na primeira grelha da rádio universidade tejo e que dava pelo pomposo nome de os poetas do impossível. passei hoje (ontem) o dia a ouvir unknown pleasures, closer e substance. em cd, porque o vinil das primeiras edições portuguesas já não se aguenta na agulha e a edição em duplo single de love will tear us apart, que conservo religiosamente, serve mais de bibelot que de outra coisa. repesquei também da estante a edição bilingue da lírica de curtis para os joy division que a assírio & alvim incluiu na sua colecção rei lagarto, no longínquo ano de 1983, no auge da formação do mito. na mitologia própria dos 20 anos, curtis foi um dos meus ícones. nenhuma idade é tão propícia à atracção do abismo, e curtis foi realmente um óptimo emissário desse estado de espírito indizível. versos como heart and soul, one will burn, ou here are the young men, a weight on their shoulders, ou people like you find it easy, fazem realmente sentido quando se descobriu recentemente a existência, a fragilidade da existência, quando todas as dúvidas se acumulam, quando não há passado nem futuro.

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