hergé
no centenário do nascimento de georges remi, tinha que se falar dele aqui. ficará para sempre conhecido por hergé, o pseudónimo que inventou a partir das iniciais do seu nome e que utilizou para assinar as aventuras do repórter tintin. um dos maiores ícones do século 20, há muito que tintin extravasou as fronteiras da banda desenhada, falando-se frequentemente do projecto sempre adiado de steven spielberg para o passar para o grande ecran, em figuras de carne e osso. tenho a agradecer a hergé a minha grande, enorme, paixão por banda desenhada. quando as aventuras de tintin se tornaram demasiado "grandes" para continuarem a ser publicadas no suplemento juvenil "le petit vingtiéme", hergé fundou "le journal du tintin", revista semanal dedicada exclusivamente à banda desenhada, que publicava as histórias em continuação ao longo de vários números. o sucesso da revista levou a que se multiplicassem as edições noutras línguas e noutros países, e portugal não foi excepção. tinha eu 11 anos quando a descobri, ia ela no sexto ano de publicação. tornou-se um hábito semanal quase tão importante como respirar, ansiava pelo dia de publicação para poder continuar a seguir as histórias. comprei todos os números anteriormente publicados, e enquanto a revista portuguesa foi saindo, foi ritual imprescindível na minha vida enquanto crescia. cada número era lido e relido, tratado com cuidado, e ainda hoje a colecção completa repousa em lugar de destaque nas minhas estantes. com a revista, foi todo um universo de autores que entrou no meu mundo para nunca mais sair. edgar pierre jacobs, paul cuvelier, aidans, jacques martin, dupa, william vance, morris, uderzo, greg, giraud, godard, degroot, hugo pratt, tibet, meziéres, derib, hermann, dany, cosey, will eisner e tantos outros. quando a revista portuguesa terminou, passei a comprar a belga, que na altura ainda se publicava. entretanto surgiu a excelente (à suivre), revista mensal mais virada para um público mais adulto (do qual eu tinha passado a fazer parte por força da roda da vida), que também passei a comprar. ler banda desenhada está-me entranhado tão fundo que nem sei explicar, foi-me incorporado aos 11 anos, naquela tarde, naquele quiosque.
quando hergé morreu em 1983, trabalhava na 24ª aventura do seu repórter, "tintin e o alph'art", que deixou inacabada. a aventura tornou-se mítica, e o seu título deu inclusivamente nome aos prémios atribuídos anualmente no salão de angoulême, os prémios "alph'art", uma espécie de óscares da banda desenhada. por expressa vontade de hergé, a sua obra não podia ser retomada. yves rodier, um jovem desenhador canadiano fã de hergé, pegou clandestinamente no trabalho do mestre, entretando publicado em álbum, e completou-o em 1995, com um traço bastante fiel ao original, mas a fundação hergé recusou e proibiu a sua publicação. quando soube destes factos, há cerca de 10 anos, fiquei cheio de curiosidade, porque o material publicado oficialmente não era bem um álbum de banda desenhada, eram os esboços do mestre, mas lê-lo não dava aquele gozo que se tira de uma boa história desenhada. o que eu não imaginava, era que o trabalho de rodier estivesse disponível na net. mas está, aqui, em versão integral, mas em língua inglesa. acabo de o descobrir e não posso deixar de o partilhar. adivinham-se algumas horas em frente ao computador, embora não seja, de maneira nenhuma, a maneira ideal de ler o tão aguardado 24º álbum das aventuras de tintin.
9 comentários:
eh pá, a tua casa deve ser um sítio bom para ir passar férias... a ler banda desenhada de manhã à noite... Tens um jardinzito para eu e a minha Rita nos esticarmos ao sol a ler? :)
é só dizeres quando... não sei é se os dois cães e os três putos vos darão muito descanso... :)
posso levar os dois cães e os 3 gatos? :)
Agora vou mesmo ler BD.
Enquanto criança nunca me deu para tal. Li um ou outro na biblioteca e larguei sem maior interesse. Foi pena. Acho que foi porque lá no planeta de onde venho as raparigas não compravam dessas revistas. Escolhiam as fotonovelas abomináveis que sempre abominei.
A minha filha não gosta muito destes mestres do quadradinho, à excepção do Goscini. mesmo assim está sempre a resmungar porque sempre são as mulheres que servem de pé os banquetes e rezingam com os heróis, nunca brincam, só se divertem com vestidos novos ou culinária, não viajam nem têm grandes aventuras como os heróis.
Mas tb entende que isso tudo não é imputável aos heróis e que estes não deixam de a fazer rir por isso. Mas só dá esta condescedência ao Asterix e Obelix.
Parece-me que estes heróis masculinos não servem para deleitar neurónios de mulher em crescimento porque é difícil que nos identifiquemos com eles num bocadinho que seja.Algum puto lê o Luky Luke seguindo a história na perspectiva do cavalo?
Agora adulta e definitivamente emancipada, já terei maturidade suficiente para seguir as aventuras desde o ponto de vista que eu quizer.
podes sempre optar por algumas heroínas femininas, como a tendre violete do jean-claude servais, ou qualquer das séries do françois bourgeon. em português encontras "os passageiros do vento", "os companheiros do crepúsculo" ou "o ciclo de cyan". mais juvenis, ou nem por isso, e para quem gosta de ficção científica, há a série valerian, desenhada pelo meziéres, em que a "partenaire" laureline se tornou ao longo da série tanto ou mais importante do que o herói. de leitura obrigatória são duas histórias do gibrat, "destino adiado" e o "voo do corvo", cada uma constituída por dois volumes editados pelas edições asa.
oh meu amigo, deverias ser contratado por uma empresa de eventos so dedicada a estimulação neuronal. A minha lista da FNAC está a ficar mais longa que a do MODELO. Isto é serviço público, sim senhor.
Excelente crónica.
O Tintin sempre foi das minhas personagens de BD favoritas, ainda para mais porque tive a sorte de visitar o museu lá em Bruxelas.
Aquele capitão é das melhores personagens que alguma vez encontrei.
Faço minhas as palavras do comentário anterior, e reforço o obrigado pela sugestão, mal tenha um tempinho vou lá ler a 24ª!
Abraço
daniel, é bom ver que o tintin continua a ter adeptos, mesmo junto da malta da tua idade. quanto à 24ª, se calhar o melhor é guardá-la e lê-la com tempo. foi o que eu fiz.
1 abraço
Boa homenagem e bom link. Tanto tempo que nos falta para reler e rever tudo o que gostamos...
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