domingo, julho 08, 2007

festa na aldeia

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ontem houve festa na aldeia. duas festas, para ser mais preciso. quero desde já deixar bem expresso o meu desagrado por termos sido vítimas de um logro. disseram por aí que o dia 07/07/07 ia ser o dia em que lisboa seria o centro da aldeia, com a festa das 7 maravilhas, mas depois os americanos e os ingleses, cheios de inveja, inventaram à pressa uma festa nos seus bairros, só para estragar a festa de lisboa. ainda por cima disfarçaram a coisa convidando outros bairros, de maneira a que lisboa passasse perfeitamente despercebida. duas festas globais. uma dedicada ao património cultural edificado, que nos foi deixado pelas gerações passadas, outra dedicada ao património natural, muito mais antigo, e muito mais necessário para as gerações futuras. não é de estranhar, pois, que uma tenha sido uma festa televisiva clássica, enquanto que a outra foi principalmente um net-event, que a rtp tentou, mal e porcamente, acompanhar. falou-se muito, blá blá blá, ficamos a saber quais as estrelas do nosso bairro que fecham a água quando têm shampoo nos olhos, quem é que separa as garrafas de cerveja das latas de cerveja. de repente toda a gente tinha uma dica para dar.

a festa das maravilhas, foi um bocado para o pirosa, com aquela gente quase toda a cantar em playback. alguém devia avisar o josé carreras que não tem jeito nenhum para a coisa. houve uns efeitos giros, tipo cerimónia dos jogos olímpicos, o fogo de artifício que se impunha e o anúncio das maravilhas, as do bairro e as da aldeia. as do bairro até foram bem distribuídas (é para estas coisas que serve a ironia). 6 para a região de lisboa e uma para o berço da nacionalidade. 3 mosteiros, 2 castelos, 1 palácio e 1 anexo que ninguém sabe bem para o que serve ou serviu. já as da aldeia, ficaram bem espalhadas. concordo perfeitamente com o taj mahal e com petra, com a muralha que se vê do espaço e com machu-pichu, até com o coliseu e a outra pirâmide do méxico, mas o crucifixo do rio de janeiro... é que não tem nada a ver! então e as estátuas da ilha da páscoa? então e o alhambra?

a festa do planeta foi um bocado confusa. muito sinceramente, não vi consciência ecológica nenhuma. até a minha filha de 13 anos reparou que os gajos estavam a gastar bué da energia. já se calculou o impacto negativo que este live earth teve no efeito de estufa? as emissões de co2 devem ter sido qualquer coisa! foram 24 horas de luta (lá está ela outra vez, a ironia). para ser uma coisa a sério, deveriam ter feito como nos encontros da rainbow family of the living light. enormes concertos acústicos à luz de fogueiras. passei o tempo a tentar perceber até que ponto os figurões, os do bairro e os da aldeia, estavam ali por acreditarem verdadeiramente e estarem dispostos a participar numa mudança de atitudes e de hábitos, ou apenas a promoverem o figurino que os embrulha. ao menos nesta parte, a festa das maravilhas foi mais autêntica. era figurino e ponto, sem complexos nem falsas consciências. e depois, o al gore não é o bob geldof, o planeta agonizante não é tão apelativo como as crianças pretinhas agonizantes e com moscas nos olhos, e a coisa não tem piada sem o bono, que é o gajo mais porreiro da aldeia.

foto: full moon party at the rainbow gathering of the tribes, croatia, 2004, pilhada daqui

2 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei tão triste quanto tu ao olhar para os desfiles de 7/7/07. Depois de me calar com isso durante um par de dias, mudei de opinião.
O que quer que seja que faça as pessoas mudarem de atitude é bom. Alguns métodos são bons para algumas atitudes de algumas pessoas. Outros para outras. Ouvi enervada a puerilidade de muitos dos "testemunhos reais" (bbblhaacc) das celebridades: a converseta do champo e a da separação do lixo. Depois pensei que se essa gente está ainda no ponto de lhe parecer que pôr no lixo recursos como metais e polímeros é apenas algo a ficar tendencialmente off (como usar calças com o cinto no umbigo) e se essa é a forma deles reverem a sua posição, não posso ser eu a achar mal.
Tu sabes que precisas de fazer muito mais do que separar os lixos e fechar a torneira. Mas tu lês livros: "A cada um, de acordo com a sua necessidade; De cada um, de acordo com a sua possibilidade", dizia o tio Carlos (Marx).
Mas, realmente contraproducentes são algumas vozes que deixaram escapar o cinismo (A Naifa, por exemplo)colando personagens inequvocamente de cromos às práticas ambientalmente correctas. Mais feias são também as posições de ambientalistas que parecem querer ser os únicos a proteger o ambiente, como aqueles adolescentes que deixaram de gostar de Pink Floyd quando o grupo se tornou um fenómeno de massas. (Esses diziam: ah! no tempo do Syd Barret é que era!)
A protecção do ambiente tem que ser um corrente firme mas sem um estilo próprio. Tem que ser descolada de etiquetas musicais ou artísticas e de totens de tribos urbanas. Como de outra forma aceitaremos a escasez de recursos,ou os impostos sobre a circulação de veículos e sobre os produtos petrolíficos sem activar alguma forma muito democrática de estragar isto de vez?
A mudança que se exige é mais profunda do que a exigida pelo Bob Geldorf em seu Live Aid. Aliás ele veio a terreiro com umas falas bem infelizes. Proteger a Terra pede-nos muito mais que found raising.
Não vale a pena assinalar a vermelho o descrédito de Al Gore nas suas contradições: Não é por ele estar longe de ser santo que o problema deixa de existir. Se, na sua imperfeição, ele contribui para o divulgar e resolver o problema, só posso apoia-lo.
Passou já o tempo dos Baden Mainhoff (ortografia muito duvidosa aqui): agora estamos todos simultaneamente do lado do problema e do lado da solução. Não é preciso ser-se um revolucionário radical, não é sequer útil querer endireitar a vida, não é verdade que alguns de nós possam ser impolutos e impoluentes. Mas é preciso a tal militância de gerúndios de que se falava antes (-ando, -endo,-indo, -ondo.
Fiquei triste por ter ouvido tanta voz sonante a apontar a pegada ecológica da Madonna (e se me aperta a vesícula biliar ouvi-la cantar!), ou o nº de jatos particulares dos artistas que actuaram, depreciando a iniciativa. Teriam eles deixado de ter essa pegada ecológica se a iniciativa não tivesse existido? Alguém põe a hipótese de haver um saldo positivo da coisa?... Não? Como sabem?
A BBC e o SUN levaram horas a levantar informações sobre a santidade ambiental das pop stars. Para quê? Sentir-se-ão assim melhor por não serem perfeitos pessoalmente? Não é esse um comportamento adolescente ("oh prof, foram eles também, não fui só eu!")
Eu teria acompanhado um unpluged. Também teria visto atentamente uma maratona de Shakespear, pianistas interpretando Eric Satie e bailarinos fazendo a Sagração da Primavera. Assim não acompanhei quase nada. Gosto cada vez menos dos sons eléctricos mas à Terra o que eu gosto ou não é totalmente irrelevante. É o que este fenómeno tem: a intenção não conta nada porque ela não polui nem despolui. Literalmente não aquece nem arrefece. Para quê então julgar as intenções dos outros?
Watever.

nelio disse...

goreti: que testamento! a minha foi uma reacção a quente, a tua, um pouco mais esfriada. suponho que a pegada ecológica do live earth tenha sido irrisória e a sua exploração e publicitação só serve interesses primariamente económicos. tuuo o que puder estragar a imagem pública deste tipo de eventos é bem vindo aos olhos de quem "isto" só atrapalha os seus objectivos. concordo quando dizes que aquilo que pode sensibilizar um tipo de pessoas pode ser indiferente para outras, há que usar de todas as estratégias e todos os contributos são bons. tenho medo de um certo ambient-chic que possa criar anticorpos...