terça-feira, novembro 28, 2006

tenho um irmão

tenho um irmão com quem partilhei a infância, pouco mais de dois anos a separar-nos, ele à frente, eu atrás. partilhei espaços, afectos, brincadeiras, partilhei quedas, bicicletas, triciclos, piões, bonecos, carros, e tudo o mais.
tenho um irmão com quem partilhei a adolescência, o crescermos, as confidências, partilhei músicas, desenhos, livros, ideias, amigos, mágoas, segredos. partilhei embriagezes várias, aventuras de rapazes, noites de lua cheia, fogueiras, utopias.
tenho um irmão com quem cresci e me fiz homem. com quem rumei à grande capital para continuar a estudar, num tempo em que em faro outras hipóteses não se punham para quem se queria continuar a formar.
tenho um irmão que se perdeu pela vida, de tudo desistiu, às vezes penso que de si próprio. várias vezes tentou, várias vezes se magoou e não soube lamber as feridas.
tenho um irmão que se deixou dominar pelos medos e inseguranças, que não conseguiu lidar com a frieza e a formatação social, que construiu muros e casulos.
tenho um irmão que não está louco, louco está o mundo dos homens que desperdiça quem sente de uma maneira diferente, para quem a vida não tem sentido se não for o amor a dominar.
tenho um irmão que se perdeu, em sonhos e teorias, em esoterismos e magias.
tenho um irmão que não consegue, lidar com a dor que o mundo transporta, com a agonia e a maldade, com a vaidade, com a intolerância. tenho um irmão que é diferente.
tenho um irmão que amo com aquele amor de irmãos, que me conhece e me desconhece, que sempre ali esteve, que já estava quando eu cheguei.
tenho um irmão que hoje completa, outra viagem cósmica em torno do sol, e ainda ontem me escrevia "diz o saber antigo, antes da alvorada vem o momento mais escuro da noite. sem o momento mais escuro, não é possível a alvorada... ou, só quem cai aprende a levantar-se..." ao que eu hoje, entre as pingas da chuva respondia "bom dia. caímos e levantamo-nos, voltamos a cair e a levantar. é essa a nossa condição de bichinhos à mercê das leis da natureza. da nossa natureza. como diz a laurie anderson, walking and falling at the same time. parabéns por estes 47 anos de walking and falling."
tenho um irmão. ponto.

domingo, novembro 26, 2006

audiolivros (a propósito do cod3x 632)


noticiam dezenas de páginas que o codex 632 do josé rodrigues dos santos foi editado recentemente em formato de audiolivro. pergunto: mas afinal para que serve um audiolivro, exceptuando para os invisuais, mas mesmo assim existe o braille e não me acredito que seja esse o público-alvo dos editores. grande parte do gozo de ler e da importância de ler consiste na decifração do código escrito, na activação dos neurónios que vão descodificar aqueles "rabiscos" e transformá-los em ideias, objectos, sentimentos. no levantar dos olhos da página e ficar a matutar, por breves momentos, naquela frase, naquele conceito, naquela situação que estamos a ler. e depois retomar a leitura, ou interromper, marcar a página onde vamos e depositar o livro no seu sítio de descanso temporário. como se faz isto com um audiolivro? ainda por cima com romances, onde apetece reler algumas passagens que mais nos impressionam, apetece retomar um pouco mais atrás do que a página onde se interrompeu, onde por vezes voltamos atrás várias páginas à procura de algum pormenor que se nos escapou na primeira passagem... pergunto novamente: para que serve um audiolivro? vejo, talvez, uma excepção, na poesia. mas mesmo assim...

sábado, novembro 25, 2006

coolsvill3

cada um tem as suas divas. coolsville de laurie anderson, com magritte pelo meio.

sexta-feira, novembro 24, 2006

wordsong p3ssoa


já tinham surpreendido em 2003 com o trabalho dedicado a al b3rto, voltaram este ano à carga com um trabalho dedicado a fernando p3ssoa. dificilmente se poderia imaginar melhor tradução musical para o universo pessoano. o projecto liderado por pedro d'orey (ex-ml3r if3 dada), nuno grácio, alexandre cortez e filipe valentim (rádio macau), editou um objecto inclassificável e que dá prazer explorar, que não se esgota na audição da música. disco de um lado, dvd do outro com os vídeos criados por rita sá, e ainda um pequeno e elegante livro com os textos das músicas, poemas, e outros textos sobre pessoa. não é por acaso que o proj3cto p3ssoa venceu recentemente a 3ª edição dos pr3mios portugu3s3s de multim3dia na categoria de música, promovidos pela associação para a promoção dos multimédia em portugal (a.p.m.p.) e a número - arte e cultura. paragem obrigatória no sítio do projecto no myspace, onde poderão ouvir 4 das 16 faixas e ver uma pequena amostra dos vídeos de rita sá. mas o melhor mesmo é comprar o dito objecto. para quem gosta destas coisas, aqui fica a lista de influências assumidas pelos músicos: lou r33d, lauri3 and3rson, talking h3ads, jan3 birkin, wagn3r, syd barr3t, ca3tano v3loso, nico, rafa3l toral, soft machin3, traffic, thr 33 black bros, dub funk association, h3rb3rt e jazzanova.

quinta-feira, novembro 23, 2006

m.c.3sch3r

m.c.escher (1898-1972), um dos meus artistas gráficos de estimação, com a sobriedade do preto e branco, o seu espírito matemático, os seus mundos (im)possíveis.



relatividade, litografia, 1953

estrelas, entalhe em madeira, 1948

mãos desenhando-se, litografia, 1948


dragão, entalhe em madeira, 1952

répteis, litografia, 1943

queda d'água, litografia, 1961

não deixem de visitar a entrada de escher na wikipedia.

terça-feira, novembro 21, 2006

dia mundial da t3l3visão


nunca pensei que a televisão fosse o primeiro tema do und3rblog, mas...

pois bem, hoje é o dia mundial da televisão. ao que parece, a data foi criada há 10 anos num fórum da o.n.u., com o intúito de ser um incentivo à criação de programas sobre questões de paz e de desenvolvimento social e económico. eu cá não dei por nada, antes pelo contrário. a televisão continua de ano para ano a piorar, a render-se cada vez mais ao poder económico, passou a ser um meio de vender publicidade, com alguns (maus) programas pelo meio. inverteram-se os papeis. de caixa que mudou o mundo, passou a ser a caixa mudada pelo mundo, rendida à falta de cultura da turba anónima. é também um dos principais instrumentos de formatação social, condicionando comportamentos e estéticas, anulando a diversidade individual. falo dos chamados canais generalistas, claro, aqueles que estão ao alcance de todos, porque nos canais por cabo há algumas honrosas excepções. cresci com a televisão sendo uma das minhas fontes de informação e de formação, mas para os meus filhos, por vezes parece ser mais uma fonte de deformação do que outra coisa. actualmente vejo pouquíssima televisão, e quando o faço, é principalmente por inerência das funções paternais, mas mesmo assim, aguento pouco. vejo de vez em quando os "morangos", que têm uma influência enorme na minha filha, principalmente para poder falar sobre as questões que lá vão sendo levantadas, mas faço guerra aberta à floribela, essa aberração de estilo inclassificável. o meu argumento favorito é que 1 minuto de floribela correponde à destruição de 5 neurónios. dei-me ao trabalho, há uns dias atrás, de ver um bocado dum programa qualquer ligado à revista lux, que os putos estavam a ver interessadíssimos. seria um programa interessante em termos de estética humana, cheio de pessoas muito bonitas e arranjadas, mas bem que podiam tirar o som. de cada vez que alguém abria a boca, entrevistadora ou entrevistados, deitavam tudo a perder. não consegui ouvir uma frase, uma ideia que tivesse o mínimo interesse. que vazio! valerá a pena continuar a enumerar os exemplos? não resisto a relembrar a minha experiência ultra-traumatizante com o programa da t.v.i em que 'personalidades' (?) vão cantar a favor duma causa. tive o azar de apanhar logo com o goucha, um dos meus ódios de estimação, mas mesmo assim aguentei, porque queria perceber a mecânica da coisa... numa palavra, confrangedor! mais uma prova de que actualmente, ninguém liga ao que a o.n.u. diz...

segunda-feira, novembro 20, 2006

orph3us

estou com o síndrome do segundo post. fuga para a frente, int3rlúdio musical.


d3claração d3 intençõ3s

foto pilhada daqui

s3 3stão a p3nsar qu3 todos os 'és' vão s3r substituídos por 'três', d3s3ngan3m-se! não tenho nada contra os 'és', antes pelo contrário, nem tenho nada a favor dos 'três'. sempre acreditei que os sistemas devem ser subvertidos por dentro e isto inclui o nosso sistema pessoal. temos o dever de nos autosubverter, nunca deixar o edifício consolidar, cristalizar, empedernir (mas que verbo, meu d3us!). nunca fui um alinhado, quando há dois 'partidos' em disputa e me perguntam 'de que lado estás?', a minha resposta é: 'do meu'. sou assumidamente 'livr3 p3nsador', seja lá isso o que for. aquilo que leio, que escuto, que vejo, sempre foi filtrado e questionado antes de ser incorporado no meu sistema pessoal. logicamente, nunca fui nem a favor nem contra o Sistema, esse mesmo, com letra maiúscula, esse que muitos defendem com igual veemência daqueles que o atacam. o Sistema é! simplesmente. ninguém o controla, ninguém o define, é apenas o somatório dos nossos pequenos sistemas pessoais. isto não quer dizer que se cruze os braços e se deixe estar, não há nada a fazer. há! há causas que vale a pena defender, há valores que vale a pena preservar, há ideias que vale a pena espalhar e difundir, há estéticas que vale a pena sentir. normalmente sou atento ao que se vai passando neste pequeno planeta, mas até há bem pouco tempo o fenómeno da blogosf3ra passou-me um pouco ao lado. mas de há uns poucos meses para cá, fui aos poucos percebendo a imensa força deste espaço. primeiro foi um amigo que criou um, depois criei eu um também, mas dedicado a uma parte muito específica da minha vida pessoal, e de blog em blog fui mergulhando neste espaço de 'vozes' de cidadãos que reivindicam o seu quinhão da w3b na ald3ia global. faltava cá 3u, já cá estou!