sábado, setembro 29, 2007

pessoas que eu gostava de conhecer pessoalmente #1 | inês pedrosa

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portugal
"portugal é um país maravilhoso onde as pessoas passam a vida a queixar-se.
do mel e vinagre do fado eu gosto. gosto dessa angústia profunda. não acho que o país esteja estagnado, acho que as pessoas impedem o país de andar para a frente."


utopia
"a utopia em si assusta-me e nunca vi dar bons resultados. as minhas utopias são quotidianas, é trabalhar todos os dias. a minha utopia principal é a que tinha o padre antónio vieira, é que a palavra possa movimentar a cabeça das pessoas e fazê-las agir de outra maneira. acredito no poder transfigurador da palavra, transfigurou-me aquilo que li e aquilo que leio, portanto pode transfigurar outros."


amizade
"o mundo baseia-se hoje nas nossas escolhas afectivas e nós temos esta ideia que a amizade é uma coisa sólida, é o que nos vai aguentar quando as outras escolhas falharem. temos o fantasma que certas expressões de afecto não são próprias para os amigos. a amizade também tem uma erótica muito particular. supostamente é uma relação mais duradoura, porque não tem o desgaste do desejo."


desejo
"o desejo é o mais parecido com a eternidade, mas é o menos eterno porque não tem ontem nem amanhã."


liberdade
"quando aparece uma dirigente regional a dizer que se pode criticar o primeiro-ministro desde que seja em casa, isso era no tempo do marcelo caetano. o país interior está muito estatizado. as pessoas não percebem que cada vez que se escondem estão a acabar com mais um bocadinho de liberdade."


dor
"quando tenho uma dor muito grande nunca a vivo até ao fim porque começo a pensar que vou transformar aquilo. lembro-me da morte do meu pai, que foi uma coisa absurda de dor. e dizia para mim mesma, agora já sabes como é, isto é importante para o teu conhecimento da natureza humana. quem não tem uma arte, o que é que faz à dor? eu sei sempre o que lhe faço, transformo em escrita."



há pessoas que dizem coisas com as quais concordamos absolutamente, ou que, não concordando, nos fascinam. são essas as pessoas que eu gostava de conhecer pessoalmente. para inaugurar esta rúbrica (que pretensão!) no und3rblog, inês pedrosa, em entrevista à revista pública no dia 23 de setembro. nunca li nada dela, mas isso é uma falha que se pode corrigir facilmente.

sexta-feira, setembro 28, 2007

weeping

















fotografias de sabastião salgado
música: weeping song, nick cave and the bad seeds

terça-feira, setembro 25, 2007

o cão português


este cão é português. como qualquer bom português, sabe que as leis, as indicações de utilização do espaço público, as regras de trânsito e as obrigações fiscais não são para cumprir. o cão português, em nome da liberdade individual, não liga a essas coisas e despreza quem lhes dá atenção. despreza e goza os pobres coitados que vivem limitados por tão ridiculas ninharias. pensa que quem não faz tramóia é porque não sabe, porque não é tão inteligente como ele. ou então estão-se a armar ao cucos, a dar uma de bom cidadão, quando no fundo são tão sacanas como ele. o cão português pensa que se não fôr visto, não há problema. e mesmo que seja apanhado em flagrante e alguém lhe chamar a atenção, pode sempre fazer uso da sua testosterona mal controlada e mandar o outro para o caralho, ou à merda, se fôr uma senhora. o cão português acha que o mundo não é mais do que um palco para a sua gloriosa existência e que todos os outros são personagens secundárias.

as minhas sinceras desculpas:

à k., autora do gatilho, de onde pilhei a foto;

aos menores de idade e às pessoas mais sensíveis, pelo uso de palavrões;

aos cães genuínos, pelo uso abusivo do seu bom nome.

segunda-feira, setembro 24, 2007

dona gaivota




dona gaivota olhava atenta os carros que se iam juntando para encher o próximo ferry. um quotidiano repetido desde sempre. todos os dias a mesma viagem, na esteira dos mesmos barcos, os mesmos voos, os mesmos gritos em bando, as mesmas lutas pelos pedaços de pão com que aqueles bichos bípedes presenteavam a sua colónia. já conhecia alguns. alguns rostos, alguns braços, repetiam-se todos os dias. outros estavam de passagem. vinham das suas terras longínquas e a elas regressariam depois. dona gaivota gostava daquele mar entre texel e den helder, da azáfama do porto, das areias brancas da ilha, da brisa fresca e salgada que lhe alisava as penas. fixei-a na memória fotográfica. imagino-a hoje, fiel à sua condição de gaivota, voando naquele espaço que para mim começa a perder os contornos.

foto de nélio filipe, den helder, netherlands, agosto 2007

música: king crimson, song of the gulls

sábado, setembro 22, 2007

radiohead

esta é daquelas coisas que me dá um especial gozo partilhar. radiohead ao vivo em paris, 2001, fase amnesiac/kid a. é uma hora de concerto, com bom som e vídeo mais ou menos. se não têm nada para fazer na próxima hora, aproveitem. também podem aproveitar a banda sonora enquanto navegam por outras paragens. se bem que ver thom yorke e companhia não seja propriamente um desperdício de tempo...

morning bell / national anthem / you and whose army / pact like sardines in a tin / dollars and cents / how to disappear completely / i might be wrong / knives out / in limbo / pyramid song / idioteque / everything in its right place / motion picture soundtrack

utopia

uma sociedade em que os funcionários funcionem, os polícias policiem, os artistas façam arte, os coordenadores coordenem, os governantes governem, e em que todas as palavras tenham sentido.

segunda-feira, setembro 17, 2007

um após o outro

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e de repente, o sol brilha mais fraco, as nuvens impõem a sua presença, e de manhã as gotas de orvalho ainda persistem nas folhas, no tejadilho dos carros. montam-se novas rotinas, retomam-se práticas interrompidas. os momentos de pura alienação inconsequente, saborosamente absorvidos minuto a minuto, frame by frame, juntam-se um após o outro ao enorme baú de memórias de outros verões. daqui por uns anos, já nem saberemos bem se foi neste ou em outro, se foi em julho ou em agosto. é esta a fragilidade das memórias, impressas, transformadas, personalizadas. retemos sensações, intensidades de luz, fragmentos de imagens, toques, olhares, texturas. o resto, compomos de acordo com as necessidades do nosso ego. os momentos em si, são vividos uma e única vez, sem possibilidade de reconstituição fiel ou duradoura. por isso são tão saborosos, tão únicos. por isso tentamos em vão agarrá-los com os cinco sentidos. ou mais, se porventura os tivermos.

foto de nélio filipe, vondel park, amsterdam, agosto 2007

sábado, setembro 15, 2007

melting pot! ready, steady, go!

the go! team. está lá tudo, da folk ao hip-hop. ninguém traduz melhor o melting pot e a overdose de informação da civilização global deste século 21. proof of youth, segundo álbum. this is POP music!

my world



grip like a vice



keys to the city



doing it right

quinta-feira, setembro 13, 2007

terça-feira, setembro 11, 2007

contributos para um 11 de setembro de qualidade







quando a 15 de setembro de 2001 o maestro leonard slatkin dirigiu a orquestra da b.b.c. neste "adagio for strings" de samuel barber, em homenagem às vítimas dos atentados ocorridos 4 dias antes, criou-se um novo requiem. barber, compositor norteamericano falecido 20 anos antes, fornecia assim banda sonora para o lamento e o desânimo, para a dor de uma nação. o 11 de setembro acabou abruptamente com a miragem de um novo século em paz, precipitou uma escalada de tensões e forneceu argumentos aos senhores da guerra para que ela voltasse a fazer parte do nosso quotidiano. toda a gente se recorda exactamente de onde estava e o que estava a fazer quando as televisões invadiram todos os espaços com as imagens de um povo e das torres em agonia. toda a gente se recorda de onde estava quando despertou para uma nova realidade global e descobriu que aviões civis podiam ser transformados em armas letais. não foi apenas a américa que foi atingida, foi todo um modus vivendi que foi abalado. não sejamos hipócritas. por muito críticos que sejamos em relação aos estados unidos e ao papel que reclamam para si na ordem mundial, um pouco de nós morreu também naquele dia, à medida que os corpos choviam das torres e as cinzas tomavam conta de tudo. nada justifica a barbárie a que assistimos.

o que se seguiu, todos nós sabemos. a pior administração norteamericana de que temos memória a fazer uso dos argumentos mais falaciosos e de todas as técnicas de manipulação, mantendo um povo refém do medo e da insegurança, e tentando estender essa manipulação a toda uma civilização.

uma pessoa é uma pessoa, e a morte de uma pessoa é a morte de uma pessoa. a vida de um norteamericano não vale mais do que qualquer outra vida. ao longo destes seis anos já houve muitos dias em que morreram, em circunstâncias violentas, mais do que as 2863 vítimas dos atentados do 11 de setembro. mortos anónimos e sem rosto. asiáticos, que aos nossos olhos de ocidentais são todos iguais; iraquianos, que todos os dias voam aos pedaços; africanos famintos. vivemos num mundo de hipocrisias. porque relembramos uns e esquecemos outros? as imagens que se seguem fazem parte de uma campanha da m.t.v. que foi proibida pelo governo norte-americano, e é fácil perceber porquê. não encaixam nos esquemas manipulatórios e de martirização oficiais. deixam a nú as hipocrisias.

2863 morreram. há 630 milhões de sem-abrigo no mundo. o mundo uniu-se contra o terrorismo. já se deveria ter unido contra a pobreza.

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2863 morreram. 824 milhões de crianças passam fome em todo o mundo. o mundo uniu-se contra o terrorismo. já se deveria ter unido contra a fome.


2863 morreram. há 40 milhões de infectados pelo vírus h.i.v. em todo o mundo. o mundo uniu-se contra o terrorismo. já se deveria ter unido contra a s.i.d.a.

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segunda-feira, setembro 10, 2007

fim de férias

a afirmação pode ser chocante, mas eu gosto de trabalhar. mais do que aquilo que faço especificamente, gosto de sentir que contribuo para a vida colectiva e preocupo-me que essa contribuição tenha qualidade. podem pensar à vontade que me estou a armar em qualquer coisa, nunca me regi pelo que os outros pensam.

quinta-feira, setembro 06, 2007

rat-a-tu-ie

o quê? ainda não viram? um filme com diversos níveis de leitura conforme as idades. animação surpreendentemente perfeita. e mais não digo, para não me armar em crítico de cinema. apenas um conselho: se não viram, vejam.

quarta-feira, setembro 05, 2007

eu, animal



acabo de ler, num comentário de um blog, uma das frases mais imbecis que ouço ou leio recorrentemente: "não gosto nada de animais". provavelmente pensaram que a frase era bem mais terrível, mas é só isto: "não gosto nada de animais". confunde-me que nestes tempos de sociedade científica, em que desde a mais tenra idade se apresenta aos miúdos o enquadramento filogenético do homo sapiens, ainda haja pessoas que pensem que não são, elas próprias também, animais. afirmar que não se gosta de animais é uma espécie de tiro no pé, de falta de amor próprio, de desnorte existencial. somos o que somos, porque somos animais, porque partilhamos com todos eles moléculas, genes, sistemas fisiológicos, células especializadas, organizações tecidulares. para mim, que abraço demoradamente os dois cães grandalhões cá de casa enquanto eles me mordiscam as orelhas e me lambem o nariz, que toda a vida convivi com cães, gatos, hamsters, coelhos, galinhas, cágados, que levava para casa grilos, cobras d'água e morcegos que encontrava na rua, que fico horas a ver os insectos a labutarem nos canteiros à volta da casa, que estudo a evolução da colónia de passarada que habita a grande araucária nas traseiras da casa, que gosto de observar osgas, aranhas e outras "nojices" do género, afirmações deste tipo dão-me volta ao estômago.

negar a nossa animalidade, é negar a nossa própria essência, o nosso enquadramento natural. não sendo animais, restar-nos-iam as hipóteses de ser planta, fungo, vírus ou bactéria. não me estou a imaginar passar a existência com as raízes enterradas num pedaço de terra, a alimentar-me de matéria orgânica em decomposição, e a existência unicelular ou molecular também não me parece muito atractiva. creio que concordam comigo quando afirmo que ser animal é a melhor existência que nos poderia estar reservada neste calhau à deriva no espaço.

terça-feira, setembro 04, 2007

constatação #23

o bom das dores de costas são as massagens a que dão direito.

como é que se voa com esta coisa?

o astuto, que não resiste a um desafio ou a uma nomeação, distinguiu este blog com um fly award. diz ele que este blog o faz voar. amigo astuto: fico agradecido, mas não me parece bem andares a voar em blogs alheios enquanto os seus donos estão de férias. também ainda não descobri onde fica a ignição. de qualquer modo, concordo com o rafeiro perfumado quanto à mudança de designação do prémio...

perguntas de bolso #4 e #5

ainda estamos na silly season ou já passámos à rentrée?

e porque é que para a silly season empregamos uma expressão anglófona e para a rentrée utilizamos um galicismo?

segunda-feira, setembro 03, 2007

citizen mary strikes again

durante a minha ausência da blogosfera, a cidadã maria publicou uma reflexão sobre a internet e a blogosfera como espaços de liberdade criativa e de expressão, que merece todo o destaque. não pilho o post por inteiro devido à sua extensão, o texto e alguns comentários que foram ali produzidos merecem uma leitura atenta. obrigado, maria, por mais um texto irrepreensível.

domingo, setembro 02, 2007

september song

oh, it's a long, long while from may 'till december
and the days grow short when you reach september
when the autumn weather turns the leaves to flame
one hasn't got time for the waiting game
oh, the days dwindle down to a precious few
september, november
and these few precious days I'll spend with you
these precious days I'll spend with you




september song, de kurt weill, em adaptação livre. young gods, com mike patton, no montreux jazz festival 2005. bem vindos a setembro.