segunda-feira, dezembro 31, 2007

se não os podes vencer, junta-te a eles #7 e último

e para acabar o balanço do ano, aqui fica o resto das escolhas. acrescente-se que estas coisas são sempre muito dúbias, até porque temos tendência para relembrar mais o que se passou nos últimos meses. janeiro, fevereiro e março já nem sabemos bem se foi este ano ou o ano passado.

categoria "melhor blog", algures entre o palavras de sabão e o the last bar//last breath// trash table (risque o que não interessa), por razões diametralmente opostas//transversalmente apostas//uniformemente dispostas (risque o que não interessar).

categoria "absurdo do ano". a exibição comercial de control, o filme de anton corbijn, apenas em lisboa e no porto. caramba, até parecemos um país da treta. prova de que os circuitos de distribuição cinematográficos estão completamente viciados. se fosse um filme sobre uma qualquer starlette americana, tinhamos comido com ele, com toda a certeza.

categoria "personalidade sem categoria do ano", só podia ser o alberto joão jardim, embora cada vez haja mais candidatos.

categoria "melhor programa de televisão". portugal, um retrato social, de antónio barreto. não sei se foi o melhor, foi dos poucos que me prendeu em frente à caixinha de lavar cérebros.

categoria "melhor disco de 2007". muitos candidatos. por aqui gostou-se principalmente de white chalk de p.j. harvey, de slope de steve jansen, de ma fleur da cinematic orchestra, de an end has a start dos editors, de neon bible dos arcade fire, de behind closed doors do projecto kira neris, de all hour cymbals dos yeasayer, de boxer dos national. também se gostou, embora com algum sabor a desilusão, de in rainbows dos radiohead e da volta da björk.

categoria "melhor disco de 2006 descoberto em 2007". dois e muito bons. at the end of time (churchscapes) de robert fripp e close to paradise de patrick watson.

categoria "melhor und3rblog de 2007", a escolha é óbvia.

categoria "melhor ano do ano". o escolhido é, sem sombra de dúvida, o ano 2007. porque os anos são irrepetíveis.

e chega de balanços. pedimos desculpa por esta breve interrupção, a vida segue dentro de momentos. um 2008 comme il faut.

se não os podes vencer, junta-te a eles #6

categoria "melhor blog fotográfico colectivo". alt.blog, inquestionavelmente.




























se não os podes vencer, junta-te a eles #5

categoria "melhor blog fotográfico individual". gatilho, publicado pela k. gosto de visitar o gatilho, as fotografias são "pequenos" olhares sobre a arte e os ambientes urbanos. arte de rua, servida em excelentes enquadramentos.

























domingo, dezembro 30, 2007

se não os podes vencer, junta-te a eles #4

categoria "melhor inglês técnico 2007"

via bem pelo contrário

se não os podes vencer, junta-te a eles #3

livros. nunca os leio quando eles são editados. na categoria "melhor livro lido em 2007" o prémio vai para a sombra do vento de carlos ruiz záfon. poucas vezes um romance deixou marcas tão fortes e proporcionou um tão verdadeiro deleite durante a leitura. já falei dele aqui.









na categoria "melhor releitura do ano", ganha com destaque os mares do sul de manuel vásquez montalbán. barcelona, sempre barcelona, desta vez pelo olhar do detective pepe carvalho, céptico, gastrónomo, que vai queimando paulatinamente a sua colecção de livros na lareira. uma bela recriação dos primeiros anos pós-franco como pano de fundo para uma investigação criminal. leve e profundo simultaneamente.







na categoria "melhor banda desenhada lida em 2007", o prémio vai para alguns meses em amélie de jean-claude denis, em boa altura publicado pelas edições asa. a história de uma escritor em crise pessoal e criativa, que redescobre o prazer de estar vivo ao seguir o percurso feito antes por um outro escritor, cujo livro descobre adormecido nas estantes da sua própria casa. denis assina uma obra profundamente humana, em que o destino brinca com as personagens, à semelhança do que faz na vida real. gosto de livros assim, quando se pode falar de literatura desenhada.

se não os podes vencer, junta-te a eles #2

não foram a banda mais criativa de 2007, mas foram certamente a banda que melhor soube explorar as novas possibilidades de exposição oferecidas pela internet. os radiohead passaram o final do ano a abrir caminhos para o futuro da indústria musical e do relacionamento entre músicos e público. o lançamento por download, a 10 de outubro, de in rainbows, traduziu-se em milhão e meio de descargas nos dois primeiros dias. depois veio o webcast com covers de björk, new order e smiths, que deixou os fans em delírio. para fechar o ano em grande, os radiohead colocam a versão física de in rainbows nas lojas no dia 31 e abrem 2008 com novo webcast (prégravado, com cerca de 1 hora) a ser emitido via net a partir das 5 horas portuguesas do dia 1. para quem estiver interessado, vai passar aqui. por tudo isto, os radiohead integram as listas do und3rblog na categoria de "melhor banda na rede". entretanto começam já a circular os primeiros clips de in rainbows. jigsaw falling into place, realizado por adam buxton.

sábado, dezembro 29, 2007

se não os podes vencer, junta-te a eles

é inútil tentar fugir à onda de "os melhores do ano" que invade nesta altura tudo o que é veículo de comunicação, blogosfera incluída. todas a gente tem as suas listas preparadas. o und3rblog também. para já, as melhores árvores de natal deste ano.
.
frank visser, via bibliotecário de babel



filipe abranches, via citizen mary

quinta-feira, dezembro 27, 2007

1953 - 2007

benazir butto foi hoje assassinada a sangue frio por um louco que se fez explodir depois dos disparos, arrastando consigo mais duas dezenas de vidas. e agora? bush tem razões para se mostrar preocupado. e se o conselho de segurança das nações unidas se reune de emergência, quem sou eu para não ficar preocupado também. acendeu-se um rastilho, resta saber a dimensão dos estragos. era previsível, também. previsível à luz das lógicas absurdas que continuam a dominar esta nossa existência de bichinhos estúpidos. deixo o trabalho de enunciar as imensas qualidades desta mulher a quem estiver para aí virado, os defeitos rapidamente serão esquecidos. temos novo mártir para homenagear.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

big brother, we're waiting for you

pronto, já me estragaram o natal...

.

bem me parecia que o velhinho não era de confiança...

feliz natal!

domingo, dezembro 23, 2007

a mais antiga celebração do mundo



solstício de inverno. talvez a principal razão para o cristianismo ter fixado a data do nascimento de jesus no início do inverno. a verdade histórica aponta para outras épocas do ano, nunca para dezembro. a origem dos ritos pagãos ligados ao solstício perde-se nos primórdios da humanidade. estas coisas fascinam-me.

sábado, dezembro 22, 2007

da vida das árvores #6

foto de babou, dezembro 2005, praga

gente vulgar

IV

desde a mais tenra infância, paula evidenciou um pendor especial para o perfeccionismo. uma carreira académica brilhante, um esmero na sua imagem e uma eficácia invulgar em todos os pormenores conduziram-na a um lugar de topo na administração de uma grande empresa. tradicionalista e conservadora, cuidava de todos os pormenores da sua vida de modo a que nada falhasse. chegada a casa, estenuada, deixou-se cair na chaise-longue. tinha sido azar a sua empregada adoecer em vésperas de natal, tendo ela própria que fazer as compras para a consoada. por momentos relembrou a luta. relembrou a imagem da última couve portuguesa que restava no hipermercado em trânsito entre o expositor e o carrinho de outra cliente, a breve troca de palavras com a outra senhora, a recusa da outra em lhe ceder a couve, o saco de plástico que continha a couve a esticar-se e a rasgar-se puxado pelas duas, a couve a rebolar pelo chão, as duas jogando-se ao chão para apanharem a couve, a intervenção dos funcionários do estabelecimento. fazendo uso do seu famoso poder de argumentação conseguira convencê-los de que tinha sido ela a primeira a pegar na couve e a outra a tentar roubar-lha. olhou, vitoriosa, as folhas de couve que saiam para fora do saco de plástico que jazia a seus pés. agora sim, o seu natal iria ser perfeito.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

da vida das árvores #5

foto de yvette miller
adenda em 2008.01.14: segundo o comentário publicado, a foto poderá não ser de yvette miller. a sua galeria no olhares, de onde retirei a foto, foi cancelada, como podem verificar aqui

num shopping perto de si...

terça-feira, dezembro 18, 2007

gente vulgar

.

I

iniciada na nobre profissão do secretariado num tempo em que o domínio do papel químico e da máquina de escrever eram atributos apreciados, berta acredita piamente que os computadores são dotados de vontade própria. inúmeras vezes relata aos seus superiores episódios em que, apesar de ter repetido escrupulosamente a mesma sequência de comandos, a máquina lhe responde de forma bem diversa.


II

cristovão teve uma educação espartana em que o rigor e o autocontrolo não foram sugestões, foram antes exigências. habituado a repetir processos rigorosamente controlados por seu pai, ainda hoje é sempre com a mesma frase que pede a moeda aos condutores dos veículos que ajuda a estacionar. o autocontrolo, incorporado na sua personalidade durante a primeira infância, ajuda-o a respeitar os limites do seu território e a não riscar a tinta dos carros de quem lhe nega a recompensa e, assim, lhe atrasa a próxima dose.


III

para sobreviver sem sofrer, maria foi acumulando, a cada novo acontecimento adverso, a sensação de que tinha que calar o seu eu sensível. a dada altura, já não sabe bem precisar quando, transformou a sensação em certeza e endureceu a sua relação com o mundo, com os outros, com a própria existência. desde então um tom amargo contamina-lhe os dias. não tem noção do desagrado que provoca à sua volta, assim como não sabe das várias alcunhas que os colegas lhe inventaram, anaconda não sendo das mais ofensivas.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

da vida das árvores #4

foto de angele

sábado, dezembro 15, 2007

da vida das árvores #3

foto de paulo arrais

quinta-feira, dezembro 13, 2007

da vida das árvores #2

autor não identificado

da vida das árvores #1

foto de carlos macedo

habemus tratado

.


lá se assinou o novo tratado da união. até nisto se vê a nossa falta de humor enquanto povo. em vez de fazermos como os holandeses e escolhermos a terrinha com o nome mais difícil de pronunciar, não. fomos escolher lisboa. seria muito mais interessante ouvir os altos dignatários europeus referirem-se ao tratado de cinfães ou ao tradado de oiã. já sem tanto interesse mas mais realista seria o tratado de guimarães, o berço da nacionalidade bem o merecia e a gente sempre se divertia um pouco mais quando visse a angela ou o nicolas a retorcerem-se para nomearem o tratado. mas como somos um país de gente séria, ficou de lisboa, a capital asfixiantemente aglutinadora.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

somos uma espécie admirável

sempre vivi este dilema entre o encanto e o desencanto com o bicho-homem, a sua essência, o seu ser biológico, capaz do melhor e do pior. acabámos por criar complexas redes de organização em grupo, tribos que se entrelaçam com outras tribos, que partilham o habitat embora não partilhem muitos dos comportamentos. uma verdadeira inovação biológica. tão complexa é a nossa organização em grupos, e tão interdependente, que os grandes agrupamentos humanos contêm verdadeiras tensões em relação ao rumo do todo e ao (des)equilíbrio de forças entre tendências opostas ou transversais. o sistema, no fundo, somos nós todos, ninguém o controla, ninguém o define. segue o percurso resultante da soma de todos os vectores individuais. pode parecer estranho, mas isto vem a propósito do natal. ou melhor será dizer: isto vem também a propósito do natal. o mesmo encanto e o mesmo desencanto que referi acima. talvez poucos pensem nisso, mas esta é uma época de verdade, com inspiração nos sentimentos mais nobres e mais elevados de que somos capazes enquanto espécie. jesus, o homem que realmente existiu, que nasceu mais coisa menos coisa há pouco mais de dois mil anos, era um homem bom, justo, verdadeiro, conhecedor da nossa essência. sabia que para continuarmos a viver em grupo temos que domar o predador que há em nós. e nós somos uma espécie auto-predatória, uma das únicas de que há registo. jesus, dizia eu, passou à história como símbolo dos sentimentos mais puros e mais nobres de que somos capazes. e das acções também. é isto que deviamos estar a celebrar agora. o nosso lado mais luminoso, a inspiração que faz com que persigamos ideais de justeza, de solidariedade, de futuro partilhado. hoje não me vou queixar de todos os absurdos da realidade e não vou dizer o que está mal nesta maneira que engendrámos para festejar o natal. nem vou protestar contra os contornos quase pornográficos do apelo ao consumo desenfreado. quero continuar a sentir a magia infantil que olha para as luzes espalhadas pelas ruas das cidades com fascínio absoluto. somos, realmente, uma espécie admirável.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

constatação #30

os direitos humanos e essa treta toda, só nos dias úteis e se não houver interesses económicos em jogo. nunca aos fins de semana.

ainda bem que eu vivo na província, mas mesmo assim estou um pouco enjoado

queria falar sobre a cimeira ue-áfrica, mas nem sei por onde começar. antes de mais, porque é que lhe chamaram cimeira? a palavra cimeira evoca elevação, positivismo e outros conceitos que nada têm a ver com o que aconteceu. baixeira, seria uma palavra muito mais consentânea com a realidade. uma abordagem séria seria referir, à semelhança do que já muita gente fez, o facto ridículo que constituiu ver alguns dos maiores malfeitores do mundo a serem recebidos com subserviência. os 80 quartos que a delegação angolana ocupou num dos melhores e mais caros hotéis da capital também me parecem dignos de nota. com tanta hipocrisia à solta, lisboa não foi certamente um lugar muito recomendável durante o fim de semana. ver a democracia europeia a enxovalhar-se para garantir os mercados africanos foi um triste e degradante espectáculo. já hoje, a imprensa chinesa, que como toda a gente sabe é isenta e independente, anunciava o fracasso da cimeira. claro que isto não tem nada a ver com os interesses chineses em áfrica. outra imprensa independente, a do zimbabué, anunciava a maneira heróica como o seu querido líder se comportou e como rechaçou os argumentos e a contestação dos malditos racistas que apenas querem denegrir a imagem de um homem bom e dedicado ao bem estar do seu povo. a festa do regresso vai ser de arromba, não tenhamos dúvidas. e porque sorri o nosso primeiro no fim desta palhaçada? apetece fazer uso da velha frase: parem o mundo que eu quero descer.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

und3rmuzik #4 sow the salt

sobriedade, tensão, espaço para o silêncio, estruturas complexas, depuração, inovação. estes são alguns dos atributos de "slope", o primeiro trabalho em nome próprio de steve jansen, baterista, percussionista, músico. steve é irmão e companheiro de carreira de david sylvian, desde os japan ao mais recente colectivo nine horses, passando por todos os discos a solo e pelos rain tree crow. cinco anos de trabalho criterioso originaram um disco avassalador e luminoso. uma luz depurada, filtrada, hipnótica. "sow the salt", quinta música no alinhamento, conta com a voz de thomas feiner dos anywhen. em "slope" podem ainda ouvir-se as vozes de david sylvian, anja garbarek, nina kinert, tim elsenburg e joan wasser. este é um dos mais entusiasmantes trabalhos deste ano, desta década.


quinta-feira, dezembro 06, 2007

out of control

já há muito tempo que não tinha esta sensação de morar na província. como é possível que control, o filme de anton corbijn sobre ian curtis, figura máxima dos joy division, se mantenha em exibição, semana após semana, apenas em lisboa e no porto? um filme aclamado, premiado, sobre um dos maiores ícones da minha geração. estranhas (para não usar outros epítetos) são as lógicas da distribuição cinematográfica neste país.

sábado, dezembro 01, 2007

kual krise?

isto é um resmungo. acabado de chegar do supermercado e de ver o meu povo comemorando o dia da restauração da independência e o mundial de luta contra a s.i.d.a., em família, compulsivamente consumindo, com aquele brilho alienado estampado nas pupilas. crise, qual quê? só se for de valores.