segunda-feira, abril 30, 2007

a sombra do vento


"- E então, o que me vais mostrar hoje que eu ainda nunca vi?
- Várias coisas. De facto, o que te vou mostrar faz parte de uma história. Não me disseste no outro dia que do que gostavas era de ler?
Bea fez que sim, arqueando as sobrancelhas.
- Pois bem, esta é uma história de livros.
- De livros?
- De livros malditos, do homem que os escreveu, de uma personagem que se escapou das páginas de um romance para o queimar, de uma traição e de uma amizade perdida. É uma história de amor, de ódio e dos sonhos que vivem na sombra do vento.
- Falas como a badana de um romance barato, Daniel.
- Deve ser porque trabalho numa livraria e vi demasiados. Mas esta é uma história real. E, como todas as histórias, começa e acaba num cemitério, embora não o género de cemitério que imaginas.
Sorriu como fazem as crianças às quais se promete uma adivinha ou um truque de magia.
- Sou toda ouvidos.
Esgotei o último gole de café e contemplei-a uns instantes em silêncio. Pensei no muito que desejava refugiar-me naquele olhar fugidio que se temia transparente, vazio. Pensei na solidão que me ia assaltar nessa noite quando me despedisse dela, sem mais truques nem histórias com que enganar a sua companhia. Pensei no pouco que tinha para lhe oferecer e no muito que queria receber dela."

melhor do que eu alguma vez poderia fazer, este excerto define o livro de carlos ruiz zafón que ando a ler. devagar, saboreado, não me apetece acabá-lo, lembro-me dele de vez em quando ao longo do dia. há muito tempo que um livro não me "levava" desta maneira. a prosa poética, a eficácia dos diálogos, as encruzilhadas duma história que tem barcelona no pós 2ª guerra mundial como pano de fundo. "uma história inesquecível sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros", como se diz na capa, por debaixo do título. para aguçar o apetite a quem ainda não leu, fica mais um diálogo:

"Riu nervosa.
- Não sei o que me deu. Não te ofendas, mas às vezes uma pessoa sente-se mais à vontade para falar com um estranho do que com as pessoas que conhece. Porque será?
Encolhi os ombros.
- Provavelmente porque um estranho nos vê como somos, e não como quer acreditar que somos.
- Isso também é do teu amigo Carax?
- Não, isto acabo eu de inventar para te impressionar.
- E como me vês tu a mim?
- Como um mistério.
- Esse é o elogio mais estranho que alguma vez me fizeram.
- Não é um elogio. É uma ameaça.
- Porquê?
- Os mistérios é preciso resolvê-los, averiguar o que escondem.
- Se calhar decepcionas-te ao ver o que há lá dentro.
- Se calhar surpreendo-me. E tu também.
- O Tomás não me tinha dito que tivesses tanta lata.
- É que a pouca que tenho a reservo toda para ti.
- Porquê?
Porque me metes medo, pensei."

domingo, abril 29, 2007

bichos com a pele de outros bichos


estranho hábito este de bichos acharem que têm o direito de usar a pele de outros bichos. a pele sintética é tão vistosa como a verdadeira, mas apesar disso há quem continue a achar que um casaco de pele verdadeira é que é bem e que as imitações são para a plebe. são bichos alienados, que nem sequer querem saber como são obtidas as peles dos outros bichos que deram origem à peça que com tanto orgulho ostentam. a mim metem-me nojo. longe vão os tempos em que a humanidade aproveitava a pele dos animais que tinha que matar para comer. hoje em dia nada justifica esta barbárie. divulga a p.e.t.a. que 85% das peles usadas nesta tenebrosa indústria provém das chamadas "fur farms", em que os animais são criados em cativeiro com um único propósito: o de serem esfolados vivos por outros animais bem mais selvagens, num sofrimento indescritível. se tem estômago, veja as filmagens não autorizadas que a p.e.t.a. disponibiliza online. e depois venham falar-me de humanidade...

sábado, abril 28, 2007

um olhar

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divas | björk

o pequeno gnomo islandês. björk partiu da sua ilha para conquistar o mundo, com o fogo e o gelo que trazia nos genes, na voz, nas entranhas. sempre inquieta, sempre em reciclagem, sempre à procura. de sons, de alternativas, do sucesso também. navega em muitas águas, querer rotulá-la é tarefa inglória. registo em cambridge, 1998, all neon like, com electrónica e secção de cordas.

quinta-feira, abril 26, 2007

parabéns antena 3

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a rádio que melhor serviço público faz neste país, faz hoje 13 anos. parabéns antena 3. pelos 13 anos de existência, pelo papel fundamental que tem tido no apoio à actual música portuguesa de expressão urbana e por ainda apostarem em programas de autor nesta era das malfadadas playlists. como registo, aqui ficam 13 dos mais interessantes projectos portugueses que conheci através da antena 3, muitos deles ainda em maquetes, quando eram (alguns ainda são) desconhecidos do grande público. por ordem alfabética.

quarta-feira, abril 25, 2007

o 25A da blogosf3ra

bem mais interessante do que o das sessões solenes. os múltiplos posts corrosivos do mundo perfeito, a selecção de vídeos sacados do youtube no arrastão, a fina ironia da escrita em dia, a evocação de salgueiro maia no mais astuto, a originalidade da origem das espécies, a escrita certeira da estrada de santiago.

terça-feira, abril 24, 2007

valeu a pena

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valeu a pena? faz-me imensa confusão ouvir hoje em dia certas pessoas falarem do 25 de abril como se tivesse sido um mau acontecimento na história do país. faz-me confusão também todo o folclore institucional que faz desta data a data oficial do actual regime democrático, com toda a pompa e circunstância e respectiva feira de vaidades. faz-me ainda confusão ouvir as novas gerações confundir o 25 de abril, o 1 de dezembro, o 5 de outubro e sabe-se lá que mais. a revolução que depois se chamaria dos cravos apanhou-me prestes a fazer 12 anos. antes disso, nunca em minha casa se tinha falado de política, era perigoso. numa idade propícia a descobertas, descobri que os meus pais eram democratas, descobri que um dos meus vizinhos era informador da p.i.d.e./d.g.s., descobri a sensação do povo em comunhão e a euforia das primeiras manifestações. descobri toda a trágica história da polícia política, das torturas e das deportações.

tenho ideias vagas dos tempos do estado novo. lembro-me de ver o enterro de salazar pela televisão e das "conversas em família". lembro-me de nos rirmos, miúdos, dos pobres soldados apanhados nas malhas da guerra colonial enviando as suas mensagens de feliz natal e ano novo cheio de "propriedades" para toda a família que aguardava coração nas mãos por aquele breve contacto numa qualquer aldeia no interior. era um desfilar de rostos anónimos e cansados, debitando frases com tempo contado. lembro-me dos olhares preocupados dos meus pais à medida que o meu irmão mais velho crescia e se aproximava da idade de ser alistado.

cresci pois em liberdade, na euforia e na ilusão de um país fraterno, justo, livre. de um país culto, de um povo esclarecido, onde não mais haveria fome, onde a justiça social seria uma realidade.

não sei o que é não ter liberdade de expressão, não poder exprimir livremente as minhas ideias e as minhas concepções da vida, do país e do mundo. não sei o que é ter que falar em surdina para comentar a realidade política ou social, viver vergado por um poder que mina toda a sociedade com uma rede infernal de informadores e bajuladores. só por isto, valeu a pena, sim.

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foto de eduardo gageiro, quartel da p.i.d.e, 25 de abril 1974

segunda-feira, abril 23, 2007

dia mundial do livro

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alice

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um filme belíssimo, que não tinha ainda tido a oportunidade de ver. a r.t.p. exibiu-o ontem, em horário tardio, como é costume. talvez o melhor filme português que alguma vez vi, pontuado com uma série de planos inesquecíveis. um filme sobre a dor da perda, sobre o desespero e a dor lancinante que o desaparecimento da filha provoca nos pais. nuno lopes fulgurante na interpretação do pai, uma figura vergada pela vida, nas fronteiras da loucura, sobre ele recai todo o peso do filme. beatriz batarda, a mãe, esquecida de si mesma. o silêncio e a ausência insuportáveis nos olhares, o desespero da procura incessante de um rasto da filha entre as imagens filmadas por inúmeras câmaras colocadas pelas ruas da cidade. lisboa filmada como nunca antes fora, com um véu de neblina permanente, mérito da fotografia de carlos lopes. a música de bernardo sassetti acentuando a solidão. alice é também um filme sobre a indiferença e a solidão das grandes cidades, figuras perdidas num mar de olhares e passos alheados do que as rodeia. o quotidiano frio. visualmente, o filme é arrebatador, cada plano estudado ao ínfimo pormenor, uma montagem mais que eficaz, tudo no sítio certo. um prazer.

domingo, abril 22, 2007

thinking blogger


honra-me a indicação deste und3rblog como um dos thinking blogs escolhidos pelo citizenmary. esta coisa dos desafios que passam de blog em blog normalmente não me diz grande coisa, mas indicar os blogs que me fazem pensar é um desafio que aceito. depois de alguma reflexão e de percorrer a minha blogosfera pessoal várias vezes, e tendo de aplicar algum critério, decidi-me por 5 mulheres, porque são as mulheres quem mais me faz pensar, ao confrontar-me com a maneira como encaram a vida, os problemas e os desafios. 5 posturas diferentes, 5 maneiras diferentes de ser mulher.

- astro que flameja (marta r.)

- citizen mary (maria)

- estes momentos (ela)

- miss pearls (miss pearls)

- o mundo perfeito (isabela)
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serviço público

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isto sim, é serviço público. a rtp disponibiliza online todos os episódios do excelente "portugal, um retrato social" de antónio barreto. para ver e rever aqui.

sábado, abril 21, 2007

portugal no país das contas

"portugal é o país que mais se engana nas contas do défice. de acordo com um estudo da comissão europeia, os responsáveis portugueses fazem os cálculos sempre por baixo", segundo uma notícia divulgada ontem por diversos orgãos de comunicação social. conhecedora das dificuldades que os portugueses apresentam com a apredizagem da matemática desde a mais tenra idade, a comissão acrescenta que "o objectivo não será enganar a c.e., mas a verdade é que todos os primeiros reportes enviados pelos responsáveis das finanças nacionais desde 1994 e até 2006 subavaliam o valor do défice." o que quer dizer que as dificuldades no mundo das contas atravessam transversalmente toda a classe política portuguesa.
"reportes"??? esta palavra existe? e eu que pensava que se dizia relatório! mas os senhores jornalistas, que são gente culta e actualizada, lá saberão. ou as dificuldades de aprendizagem também se estendem à língua portuguesa, pergunto eu. a sic, a fonte consultada pelo und3rblog, acrescenta: "as diferenças nas estatísticas orçamentais acontecem também dentro do país: o ministério das finanças e o banco de portugal não se entendem quanto às contribuições da receita e da despesa para a redução do défice relativo ao ano passado." isto de fazer contas é mesmo difícil!!

sexta-feira, abril 20, 2007

constatação #13

não há nada tão estúpido como a inteligência orgulhosa de si mesma.
mikhail bakunine, pensador e revolucionário russo

quinta-feira, abril 19, 2007

santiago calatrava #3

concluido em 2001, o quadracci pavillion do milwaukee art museum foi o primeiro edifício desenhado por calatrava em solo norteamericano. o edifício em si é uma obra de arte, com uma escultura móvel no seu cimo, em forma de asas, que modela a intensidade de luz no seu interior. distinguido com diversos prémios de arquitectura e integrando diversas listas de "new wonders", o m.a.m. abriu as portas dos e.e.u.u. aos projectos do arquitecto. vale a pena visitar o site do museu, onde podem encontrar todos os pormenores.
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terça-feira, abril 17, 2007

cowboys

mais um massacre para juntar à lista. há fenómenos na sociedade americana que se tornam incompreensíveis para um europeu, e ainda bem. será que desta vez a poderosa rifle association revê as suas posições contra o controlo das armas? duvido... daqui por uns anitos, hollywood retirará os respectivos dividendos.

cog (when things just work)

tenho uma relação muito coomplexa com o mundo da publicidade. por um lado não gosto da ideia de lavagem cerebral, das técnicas de criação de necessidades, da sua utilização macissa, por outro, há anúncios que primam pela criatividade, pela genialidade das ideias. lembro-me, com alguma saudade, do programa 1000 imagens, que desmontava o mundo da publicidade e apresentava algumas das suas melhores criações. para este cog, criado em 2003 pela agência wieden + kennedy uk, foram precisos 6 meses de trabalho, desde a concepção ao produto final. foram utilizadas mais de 80 peças de um honda accord e o resultado final é muito interessante. os mais de 30 prémios que o anúncio ganhou falam por si.

segunda-feira, abril 16, 2007

sempre actual

o und3rblog aconselha: se tem um blog, grave este cartoon do luís afonso. é de extrema utilidade, apesar de já ser bem antigo. pode ser postado em qualquer altura, está sempre actual.

domingo, abril 15, 2007

do jornalismo

cartoon de josé bandeira, pilhado daqui

sábado, abril 14, 2007

do inconformismo

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“do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu, do que todos os acertos se eles foram meus, não são seus. se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. é possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura, já o pensamento lhe pertence. são meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.”

agostinho da silva

imagem, graffiti entre campolide e amoreiras

do pensamento

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"não me preocupa, no que penso, nem a originalidade nem a coerência. quanto à primeira, tudo aquilo com que concordo passa a ser meu, ou já meu era e ainda se me não tinha revelado. a minha originalidade está só, porventura, na digestão que faço. pelo que respeita à coerência, bem me rala; o que penso ou escrevo hoje é do eu de hoje; o de amanhã é livre de, a partir de hoje, ter sua trajectória própria e sua meta particular. mas, se quiserem pôr-me assinatura que notário reconheça, dirão que tenho a coerência do incoerente e a originalidade de não me importar nada com isso."

agostinho da silva

imagem, graffitti entre campolide e amoreiras

da autofagia

andam todos muito divertidos com o caso da licenciatura do nosso primeiro, mas a verdade é que precisamos de alguém que governe esta merda de país. há quem o queira fazer cair a qualquer custo, como se houvesse na esfera política alguém credível para lhe ocupar o lugar. agarraram-se ao caso da licenciatura como os republicanos se agarraram à nódoa no vestido da monica lewinski para derrubar bill clinton. casos periféricos, que nada têm a ver com política ou com governação.
"Depois da desistência de Guterres, do abandono de Barroso, das trapalhadas de Santana, o país não aguenta mais desilusões do género. Se Sócrates cair, as consequências poderão ser devastadoras para a classe política.", escreve hoje carlos narciso no escrita em dia. é das frases mais lúcidas que tenho lido nos últimos tempos. o descrédito da nossa classe politica já raia as fronteiras do insustentável, mas o processo de autofagia parece imparável. se calhar o melhor é acabar com esta treta dos partidos e das eleições e abrir um grande concurso público internacional para se encontrar um conselho de administração que gira o país. é que há empresas que têm um orçamento bem superior ao nosso. e depois admiram-se que a extrema direita esteja em franca ascenção.

quarta-feira, abril 11, 2007

beautifull things

embrenhados na azáfama do passar dos dias, passamos pelas coisas, pelos momentos, e não os vemos. escapam-se-nos pelo canto dos olhos. o que fazemos com o nosso tempo? sacos de plástico esvoaçando ao vento, os tons das folhas das árvores, os contornos que as ondas imprimem na areia das praias, as formas das núvens, as cores com que os carros e as roupas das pessoas pintam as nossas paisagens urbanas, as paletes cromáticas das flores dos jardins, quantas vemos reparamos nelas? cansados, queixamo-nos da falta de beleza nas nossas vidas, sem pararmos para olhar e ver.

terça-feira, abril 10, 2007

afinal isto serve para alguma coisa

via veertice, descubro que, segundo este site, este blog vale $7.903,56, em dólares americanos. já dava para umas boas férias...

segunda-feira, abril 09, 2007

allgarvio? com muito gosto!






andar às vezes no mundo da lua e desligado do mundo da politicazinha idiota tem as suas vantagens. uma delas é só nos apercebermos das alarvidades à posteriori. estou-me a referir ao triste episódio à volta da marca allgarve, uma campanha inteligente, um bom exercício de marketing, que os dirigentes algarvios, secundados por boa parte da populaça sempre pronta a massacrar sem pensar, condenaram sumariamente, sem sequer terem parado dois segundos para pensar no que estava em jogo. gosto desta ideia do algarve global, que não promove apenas os hoteis e as praias, mas que se quer enriquecer e diversificar. um algarve com glamour. dá vontade de rir que velhos caciques locais, tipo bota ou elidérito se insurjam tão veementemente contra a nova marca. encalhados num tempo em que o sol e o corridinho chegavam, não percebem nada de marketing, de design, da necessidade de renovação. por essa blogosfera fora, encontram-se os comentários mais atávicos, sempre partindo do princípio que se quer mudar o nome da região. como se pode ser tão primário, para não dizer jurássico? se alguém ainda tem dúvidas, sugiro uma visita ao site da my brand, a empresa que criou a marca. não estou a imaginar os dubliners indignados com o ! em vez do i, exigindo a quem de direito que se acabe com a aviltação do bom nome da cidade. ou os pacatos habitantes de amsterdão em fúria por terem posto um I, à inglesa, antes do nome da sua cidade. allgarve, dubl!n, I amsterdam. a verdade é que funciona. pelo menos para quem tem dois dedos de testa.

domingo, abril 08, 2007

renovação


ao celebrarmos a páscoa, inseridos civilizacionalmente no mundo cristão, sejamos crentes ou não, estamos a dar continuidade a ritos de renovação, cuja origem se perde nos tempos, associados ao equinócio de março que marca o início da primavera. na ressurreição de cristo repercute-se a renovação da vida associada ao despertar da natureza após os meses de invernia. o ovo, como símbolo da vida e do recomeço, é oferecido nesta altura do ano, pintado, em todas as civilizações pré-cristãs, do egipto à pérsia, da grécia a roma. ovos de galinha ou de gansa, esvaziados do seu conteúdo e depois decorados ao gosto da época. no século 18, um francês lembrou-se de os fazer em chocolate e a moda pegou. a amêndoa, como miniatura da forma do ovo. o coelho, símbolo da fertilidade, também há muito anda associado a esta época. o cristianismo reciclou todos estes ritos. se a nossa páscoa vem etimologicamente do pessach (passagem) hebraico, que assinala a fuga do egipto e o estatuto de povo livre, já o easter inglês ou o ostern alemão evocam eostre, antiga deusa germânica associada aos ritos de fertilidade. carregamos tradições ancestrais, somos um elo entre o antigo e o que há-de vir, renovemo-nos.

sábado, abril 07, 2007

coisas q'a gente quase não acredita #3

gosto francamente mais deste, mas como não é de um partido político, vai ser ou já foi retirado. o outro, execrável, vai continuar lá, apesar de já estar meio destruído. expliquem-me, como se eu fosse muito burro.

sexta-feira, abril 06, 2007

i only want to say

tinha 12 anos quando vi isto pela primeira vez. a partir daí e durante a minha adolescência, cristo era o do filme de norman jewison e ponto final. e num certo sentido continua a ser assim. este sempre foi para mim o ponto alto, o climax, a sequência preferida, em que o conflito interior explode e homem e deus se confrontam.

santiago calatrava #2

para muitos o projecto mais ambicioso e mais emblemático do arquitecto. na sua terra natal, valencia, ao longo de cerca de 2 km, calatrava desenhou 5 edifícios que no seu conjunto constituem a cidade das artes e das ciências - o hemisfèric, o umbracle, o museu das ciências príncipe filipe, o oceanogràfic e o palácio das artes. o primeiro edifício foi inaugurado em 1998, o último está em fase de acabamentos. entretanto para a zona envolvente, calatrava projecta já 4 arranha-céus que definirão a skyline de valencia. certamente um local a visitar numa próxima oportunidade.













quarta-feira, abril 04, 2007

absolutamente desnecessário

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este poema é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta.
esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial.
mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um útero do nada?


ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?


antónio ramos rosa


foto retirada daqui